sexta-feira, 26 de novembro de 2021

SAUDADE GRANDONA, MEU PAI!

uiza Válio
Se Luiz Válio Júnior, meu pai, fosse vivo, estaria fazendo hoje exatamente 100 anos de vida.
Quando ele nasceu, em 26 de novembro de 1921, saiu a notícia na primeira página do jornal "O Progresso", editado em São Miguel Arcanjo.
Filho do Major Luiz Válio e de Cirila Nogueira Válio, serviu o Exército em Ribeirão Preto. 
Aliás, serviu o Exército como Voluntário antes dos 18 anos, pois precisou de autorização do Major, trabalhando como Prático de Farmácia (já atuava em São Miguel com tal profissão), justamente quando o mundo já assistia o avanço das tropas de Hitler sobre os países da Europa.  
Vinha visitar os pais sempre vestido com o uniforme. Uma fotografia que foi colocada num quadro que enfeitava a sala do Major e depois da nossa casa no Sítio Bom Retiro, foi desta surrupiada.
Um ano e meio depois de assentar praça, o comando militar dispensou boa parte de soldados, tornando-os reservistas de 1a. categoria; meu pai inclusive.
Foi então que Gijo foi morar e trabalhar em São Paulo. Morou no Bairro da Liberdade e trabalhou em drogarias nos bairros de Santana e Vila Mariana.
Depois disso, foi novamente convocado para o Exército, dessa vez em plena Segunda Guerra, permanecendo até o seu término, em 1945. 
Tornou a voltar a São Paulo, trabalhando em laboratório farmacêutico por mais algum tempo.
Teve algumas mulheres que até quiseram esposá-lo, mas ele se apaixonou mesmo foi por uma mocinha a qual desde os 7 anos, ficando órfã de pai e mãe, fora criada pelos seus pais.
Foi então que em 04 de novembro de 1950 casou-se com Maria Olímpia, filha de Pedro Fernandes e Ana Maria do Espírito Santo, gente lá da Forquilha.
Foi juiz de paz do casamento Antonio Arantes Galvão.
Foram testemunhas do enlace matrimonial seus cunhados Alcindo Lopes de Almeida, de Capão Bonito, e Sílvio Livieri, de Itapetininga.
De profissão lavrador, todavia muito desenvolvido intelectualmente, haja visto o gene herdado do Major, pôs-se a escrever e dar opiniões nos jornais da cidade e da região.
Política local e nacional era seu forte.
Um grande visionário como o Major.
Assinava seus artigos - milhares foram eles - como Cipó, Ferdinando Cipó, L.V., Risadinha, Gijo Válio, Luiz Válio Júnior.
Foi um grande ecologista, numa época em que a palavra nem existia no nosso vocabulário.
Na política, não ficou só nas hipóteses, partiu logo para a participação in loco.
Montou partidos, claro que sempre opostos ao sistema. Exemplos: MDB, PT, alguns anteriormente.
O grande orgulho do meu pai? É que jamais tirou proveito algum da política.
Nas vezes em que saiu candidato a prefeito, fez suas despesas e dos seus candidatos a vereador com dinheiro do próprio bolso. O "Cacique" que o diga.
Foi vereador na cidade de São Miguel Arcanjo quando o cargo nem era remunerado. Nesse tempo, as sessões legislativas aconteciam esporadicamente só para não terem que ouvir ou votar sobre os seus projetos. Ou os do Beduíno, filho de Antonio Bittar, que também era bastante polêmico.
Era praxe Luiz Válio Júnior, o Gijo, sair como candidato pelo menos para tirar votos das duas onças que haviam na cidade:  Fogaça e França.
Naquela época também havia fake news: ele era chamado de comunista; também corria na cidade o boato que ninguém nunca calou dizendo que o Gijo ia quebrar os santos da igreja católica se fosse eleito prefeito. Ora, ora, o padre Francisco era muito querido pela família Válio.
Tinha gente que o chamava de ladrão de terra; por culpa disso, era obrigado a brigar na justiça para expulsar vadios protegidos por políticos locais que adentravam em suas terras para roubar lenha ou tentar construir um rancho.
Ora, as terras pertenceram ao Major, foram transferidas para ele como herança e ao serem vendidas pelos herdeiros não havia problema nenhum nos papéis. Quer dizer, se fossem roubadas, como seria possível vendê-las?
Luiz Válio Júnior é, até hoje, o único candidato a deputado estadual que São Miguel Arcanjo já teve.
Nesse ano, em agosto de 1990, o jornal A Hora de São Miguel Arcanjo, sob o comando do Severino, publicou uma página inteira com nomes de são-miguelenses que se auto-denominavam eleitores do outro candidato contrário a ele, o Fuad Abrão Isaac, do PT de Itapetininga.
Não fiquei sabendo dos votos do itapetiningano, mas do Gijo Válio, pelo PRP, foram 850.
Tanto esta publicação como a do jornal local, fazem parte do meu acervo.
Coisas que magoaram profundamente, e ele escreveu sobre isso, foram expressões publicadas por dois supostos jornalistas que ainda vivem: um deles o chamando de "narciso" e o outro de "canastrão". Até hoje, tais expressões serviram para denominar os dois para o resto de suas vidas.
Luiz Válio Júnior foi fundador do Esporte Club São Miguel e do Botafogo Futebol Clube. Os estatutos dos dois clubes foram confeccionados por ele.
Até hoje não foi homenageado com nenhum nome de rua.

SAUDADE GRANDONA, MEU PAI!


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