sexta-feira, 22 de abril de 2022

A GRAÇA!

 

Bolsonaro acusou Fernando Haddad, em 2018, de tramar perdão a Lula, mas concedeu graça a Daniel Silveira
21 de abril de 2022
O presidente Jair Bolsonaro é um néscio confesso que alimenta o golpismo, defende ditaduras e homenageia torturadores. Um político com essas características não pode ter nas mãos o futuro do País, mas uma parcela da sociedade, anestesiada pelo discurso antipolítica, acabou elegendo alguém que constantemente ameaça a democracia, as instituições e o Estado de Direito.
A decisão de Bolsonaro de conceder graça ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) menos de 24 horas após o parlamentar condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 8 anos e 9 meses de prisão em regime fechado agitou o universo político. O presidente objetiva com essa decisão ampliar uma crise institucional que estava em segundo plano por orientação de assessores, mas que deve ser encarada como preambulo do golpe.
Que Bolsonaro é um embuste político todos os leitores sabem, pois nos últimos quatro anos temos afirmado que o presidente é o que se conhece como “mais do mesmo”. Na corrida presidencial de 2018, alertamos para o risco de Bolsonaro, se eleito, em algum momento aplicar um “cavalo de pau” na democracia. E esse cenário começa a despontar em um horizonte não tão distante. Mesmo assim, ainda é tempo para impedir o pior.
Entre as muitas declarações de campanha, a maioria eivada pela mentira, uma deve ser ressuscitada. Em 2018, Bolsonaro afirmou que o petista Fernando Haddad, se vitorioso, tomaria posse como presidente da República e no mesmo momento concederia perdão ao ex-presidente Lula, que à época estava preso em Curitiba.
“O Haddad eleito presidente – ele já falou isso, se não falou vocês sabem – assina no mesmo minuto da posse o indulto de Lula, e no minuto seguinte nomeia chefe da Casa Civil”, disse Bolsonaro.
Não é preciso qualquer esforço do raciocínio para perceber que Bolsonaro faz exatamente tudo aquilo que condenou nos discursos de campanha, quando ludibriou parcela do eleitorado. Disse que combateria a corrupção, mas é conivente com os corruptos; demonizou o que chamou de “velha política”, mas deu continuidade ao “toma lá, dá cá”; criticou duramente o Centrão, de quem agora é refém; e concedeu graça ao Daniel Silveira, figura política menor que o bolsonarismo tenta transformar em mártir.
Golpista de quatro costados, Jair Bolsonaro tem atacado de forma recorrente o ex-presidente Lula, já que o petista é a maior ameaça ao seu projeto de reeleição. Apenas para constar desta matéria e deixar registrado um fato importante, Lula, enquanto presidente da República, se recusou a editar decreto para perdoar os crimes cometidos por José Dirceu.
Em suma, conceder perdão a Daniel Silveira configura de chofre escárnio sem precedentes, mas fazer isso em 21 de abril é um deboche com a história e principalmente com a memória de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

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