domingo, 8 de maio de 2022

"Eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de ficar vivos!"

 

Na trilha de Bolsonaro, governo do DF promove desmonte da cultura. Espaço Cultural Filhos do Quilombo, que existia há 15 anos na cidade-satélite de Ceilândia, foi derrubado pelo governo Ibaneis.


Trator do GDF destruindo o Espaço Filhos do Quilombo. Foto: reprodução

Por Socialista Morena
Escrito en BLOGS el 6/5/2022 · 16:15 hs
RITA ANDRADE

Sofremos mais um racismo institucional, mais um ataque à nossa cultura esta semana em Brasília. Mais uma casa de matriz africana que desenvolvia seus projetos através da prática da capoeira foi literalmente tratorada. Na quarta-feira, 4 de maio, foi derrubada, por ordem do governo do Distrito Federal, o Espaço Cultural Filhos do Quilombo, comandado havia mais de 15 anos pelo contra-mestre de capoeira Lagartixa, um premiado agente cultural por seu trabalho de levar acolhimento e inclusão social à comunidade periférica da cidade-satélite de Ceilândia.
Mestre Lagartixa desenvolvia nesse espaço um trabalho com pessoas em estado de extrema vulnerabilidade e utilizava a capoeira e a cultura popular como instrumentos de formação, além de desenvolver um trabalho de inclusão social voltado a pessoas com deficiência. O Filhos do Quilombo, que já foi diversas vezes premiado, recebeu em 2018 o prêmio Cultura Viva, homenagem realizada pela Secretaria de Cultura do Distrito Federal, e teve seu mestre agraciado com a medalha do Mérito Dignidade Humana, concedida pela SUBAV (Secretaria de Apoio às Vítimas de Violência), órgão da Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania, em reconhecimento aos serviços prestados à sociedade brasileira. O Estado premia e o mesmo estado derruba o espaço!
Há 12 anos, vi o terreiro de umbanda da minha família, Templo Umbandista da Cabocla Jurema, entre Sobradinho e Planaltina, ser derrubado desta mesma forma. Hoje vejo que essa prática se repete, sem explicações ou comunicação do GDF. O ponto de cultura foi derrubado sem aviso prévio e com tudo dentro, atabaques, berimbaus e muitas histórias. Como nos sentimos vulneráveis, desprotegidos e impotentes diantes desses “tratores”...
A meu ver, isso configura o Estado racista trabalhando, derrubando terreiros, casas históricas como a Casa da Dona Negrinha em Planaltina, e agora derrubou um quilombo urbano, que faz exatamente o que o governo deveria fazer, que é atender aos jovens e a comunidade da periferia. Isso é intolerância religiosa, é racismo e perseguição social. O Estado se diz laico, mas na prática não é. O Estado tem o dever de proteger os vulneráveis, mas não o faz.
No mesmo momento que Bolsonaro veta as leis Paulo Gustavo, Aldir Blanc II e Orlando Brito, sofremos essa violência por parte do governo Ibaneis. Seguimos com a nítida sensação de estar sendo atacados por todos os lados, mas continuamos firmes no combate ao racismo estrutural.
Sem uma política pública efetiva de apoio e segurança, os espaços de cultura que desenvolvem atividades de assistência social estão abandonados. Vemos essas casas caindo aos pedaços, como o Conjunto Fazendinha na Vila Planalto, no centro da capital brasileira, ou sendo atacadas pela intolerância religiosa e racista empoderada pelo desgoverno Bolsonaro, contra a cultura de matriz africana, como é o caso do terreiro de candomblé Xaxará de Prata, também em Planaltina.
No mesmo momento que vemos Bolsonaro vetar as Leis Paulo Gustavo, Aldir Blanc II e Orlando Brito, sofremos mais essa violência por parte do governo Ibaneis Rocha. São incontáveis os ataques à cultura. Seguimos com a nítida sensação de que estamos sendo atacados por todos os lados e em todas as direções, mas somos conscientes da nossa importância, continuamos firmes no combate ao racismo estrutural e na certeza de que é preciso fazer com urgência esse debate e essa luta em todas as instâncias da sociedade. Minha solidariedade à comunidade Filhos do Quilombo. Não vamos silenciar!
"Eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de ficar vivos!"

*Rita Andrade é ativista feminista, representante da sociedade civil no Conselho Nacional de Poli´tica Cultural e presidente do Conselho de Curadores da Fundac¸a~o Brasileira de Teatro. E´ artista educadora graduada pela Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, po´s-graduada em Desenvolvimento Humano de Gestores pela FGV.

REVISTA FÓRUM.

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