Por Redação Ucho.Info/25 de julho de 2022
A oficialização da candidatura do presidente Jair Bolsonaro à reeleição, no domingo (24), era para ser um espetáculo dedicado a mitomania, mas dentro dos limites definidos pela equipe de campanha. No evento organizado pelo PL no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, Bolsonaro não se conteve a abusou das mentiras e retomou os ataques às urnas eletrônicas, ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O chefe do Executivo disse que há “11 surdos de capa preta” no Supremo e afirmou que o Exército “não admite fraude e quer transparência”, ou seja, o autoritarismo se fez presente durante o evento.
O presidente mentiu de forma covarde ao tentar convencer os apoiadores de que se preocupa com as mulheres. Para isso, teve de insistir para que a primeira-dama Michelle Bolsonaro participasse do evento. Mesmo assim, a realidade dos fatos não pode ser esquecida apenas porque o atual governo é um misto de usina de escândalos com oceano de incompetência.
Na última quinta-feira (21), Bolsonaro lamentou a morte de um policial militar durante a operação no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, mas ignorou o fato de que duas mulheres foram mortas em meio ao tiroteio entre as forças de segurança e traficantes. Além disso, policiais invadiram casas a esmo, sem o devido mandado judicial, e levaram objetos pessoais dos moradores.
Em relação ao seu principal adversário na corrida presidencial, Bolsonaro abusou da grosseria que lhe é peculiar. Associou o ex-presidente Lula ao perigo comunista, ao banditismo político, à liberação do aborto, à ideologia de gênero e à corrupção. Em dado momento, chamou o petista de “cachaceiro e descondensado”.
A aludida ameaça comunista é mais um absurdo a que recorre Bolsonaro para tentar justificar o plano golpista que está em marcha. Não por acaso, o candidato a vice em sua chapa é o general da reserva Walter Braga Netto, um conhecido entusiasta do golpe.
No tocante à corrupção, beira o desvario alguém que é filiado ao partido de Valdemar Costa Neto e refém do Centrão falar sobre o tema.
Ademais, os escândalos de corrupção no atual governo estão à disposição para quem quiser conferir. O maior deles, com certeza, é o chamado “orçamento secreto”. Sem falar da compra de vacinas contra Covid-19, do gabinete dos pastores no Ministério da Educação, da liberação de madeira ilegal, entre tantos.
Em relação ao termo “cachaceiro”, Bolsonaro deveria rever a troca de mensagens com um dos seus filhos, por ocasião de eleição para Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, quando escreveu: “Se a imprensa te descobrir ai, e o que está fazendo, vão comer seu fígado e o meu”.
Sobre o termo “descondenado”, Bolsonaro revela sua magistral ignorância. O ex-presidente Lula não foi “descondenado”, mas os processos a que respondia foram anulados porque o ex-juiz Sérgio Moro e os integrantes da força-tarefa da Operação Lava-Jato ultrapassaram os limites da lei em nome de um projeto político espúrio e criminoso.
É importante ressaltar que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) não foi condenado no caso das “rachadinhas” porque o governo atuou nos bastidores para anular as investigações.
Durante o evento, Bolsonaro fez menções diretas e indiretas ao eleitorado evangélico, inclusive com sinais na direção do céu, mas não se pode ignorar que no sábado (23) ele participou da Marcha para Jesus, em Vitória (ES), com direito a uma réplica gigante de um revólver.
Pelo que se sabe, a Bíblia, tão citada por Bolsonaro, não cita armas de fogo como sinônimo de fé.
O único momento da convenção do PL em que prevaleceu a verdade foi quando Bolsonaro exaltou a figura de Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, um dos próceres do Centrão e “dono” do criminoso orçamento secreto. Lira foi chamado de “cabra da peste”, irmão de longa data” e “dono da pauta”.
“Eu sei que a figura mais importante hoje aqui sou eu. Mas se não é o Arthur Lira, esse cabra da peste de Alagoas, não teríamos chegado a esse ponto. Obrigado, Lira”, disse Bolsonaro.