Foi tudo figura de linguagem
Por Gisele Leite/23 de agosto de 2022
A entrevista do atual Presidente da República e candidato à reeleição foi pautada na mais pura bizarrice.
E ainda defendeu a sua falta de empatia com os doentes e mortos durante a pandemia, quando imitava falta de ar e, ainda, alegava não ser coveiro, tudo por conta de figura de linguagem. O que faz parte da língua portuguesa e da literatura.
Enfim, confesso que ao assistir os poucos quarenta minutos, quando oscilei entre o humor e a raiva. A pachorra desenfreada, a falta de cortesia quando até acusou William Bonner bem como a Rede Globo de fazer “fake news”.
Negou tudo, como praxe.
Não existe, nem existiu desmatamento da floresta amazônica, não existe inflação, ao revés, existe deflação. E, justificou que foi contra a quarentena e o lockdown porque tal isolamento apressou o adoecimento das pessoas e, prejudicou a economia brasileira.
Aliás, alertou que poderia ter sido pior, pois as pessoas famintas e necessitadas poderiam cometer “loucuras” para saciar a fome. Atacou a CPI da Covid-19, apontou que houve desvio de verbas cometido por políticos brasileiros. Chamou a CPI do circo feita por Renan Calheiros, Omar Aziz e Randolfe Rodrigues, que não quiseram investigar os recursos enviados para nove governadores do Nordeste. Por fim, confessa que não adotou o politicamente correto.
Negou que chamou de canalha Ministros do STF, bem como, a bravata do Sete de Setembro passado. Amenizada com a ajuda de Michel Temer.
Ao ser questionado sobre as promessas passadas de 2018 na área econômica e que não foram cumpridas, o candidato justificou afirmando que o mundo sofreu com a pandemia e com a guerra entre Ucrânia e Rússia.
Ressaltou como “coisas” boas, a Lei de Liberdade econômica, a reforma da Previdência e, a concessão do auxílio emergencial para que os municípios não colapsassem. Bradou orgulhoso que foi à Rússia para negociar fertilizantes com o Presidente Putin.
Enfim, tudo não passou de nossa imaginação ou delírio. Diante de uma negativa extensa e rasa, seu derradeiro minuto para se enaltecer que apesar de tudo, enfim, sobrevivemos. Será? Justificou a alta rotatividade de ministros com a lapidar frase: “as pessoas se revelam quando chegam”, e, por vezes, porque não “leva jeito para aquilo”.
Questionado se era ou não do Centrão. Respondeu que em seu tempo não existia Centrão. E, que para governar precisa mesmo do apoio dele. Dos 513 deputados, 300 são de partidos do chamado Centrão e que integram a base do governo para que se possa avançar nas reformas.
Ao final, afirmou que Moraes vai chegar a bom termo. Complementando que teremos eleições limpas. Para sua equipe e aliados o Presidente conseguiu responder às questões e não se mostrou intimado.
Apesar de acusado de espalhar desinformação sobre o sistema eleitoral brasileiro, seu comportamento imitou o de Donald Trump que habitualmente atacava a credibilidade do regime democrático. E, quanto seus aliados e defensores pedirem a volta da ditadura, do AI-5 e o fechamento do STF alegou que é apenas o exercício de liberdade de expressão.
O que não condiz com a ordem jurídica que determina ser crime contra o Estado e a Ordem Política e Social, a Lei 1.802, de 5 de janeiro de 1953, positivado em seu artigo 5º. Além da previsão da Lei de Segurança nacional, a Lei nº 7.170/193, nos seus artigos 22 e 23. Sem olvidar, a previsão do Código Penal brasileiro em seu artigo 26 que tipifica a incitação ao crime.
Assim, da entrevista registrou-se a elevação de cerca 25% da audiência média do Jornal Nacional, talvez esse seja o único ponto positivo do evento.
Porque no cômputo geral tudo já estava absolutamente previsível.
Nos bastidores como deboche, o candidato a reeleição a respeito da sabatina comentou:- Vou dar um beijo no Bonner, pode? Pode, apenas se for uma figura de linguagem. A história decifrará toda essa literatura enviesada.
A ordem de entrevistas fora definida por sorteio o que de plano já revela má sorte que foi realizado em primeiro de agosto diante dos representantes dos partidos.
(*) Gisele Leite – Mestre e Doutora em Direito, é professora universitária.
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