sábado, 9 de fevereiro de 2013

POEMA DE ANTONIO FELICIANO DE CASTILHO:


QUEM POUPA AS ÁRVORES ENCONTRA TESOUROS

O vizinho Milão, que hoje é tão rico,
Não tinha mais que uma árvore, e de terra
Só quanto aquela sombra lhe cobria.
– “Corta-a, Milão, diziam-lhe os pastores.
Alegras teu campinho e terás lenha
Para aquecer a choça um meio inverno.”

– “Eu! Respondia o triste, eu por machado
Na boa da minha árvore? primeiro
Me falte lume alheio o inverno todo,
Que eu mate a que a meu pai já dava sestas;
A que de meu avô me foi mandada,
Que a mão pôs para si; e a que nos braços
Me embalou tanta vez sendo menino.
Os deuses a existência lhe dilatem
Que assim lhe quero eu muito, e o meu campinho
Produza o que puder, que eu sou contente.”

Sorriam-se os pastores; o carvalho
Cada vez mais as sombras estendia,
E Milão de ano em ano ia a mais pobre.
Lembrou-se um dia em bem, que uma videira
Plantada a par com o tronco, o enfeitaria,
E os cachos pendurados pela copa
Lhe dariam também sua vindima.

E eis que ao abrir a cova, acha um tesouro!
Desde então ficou rico, e diz-me sempre,
Que os deuses imortais lh’o hão dado o prêmio,
Por amar suas árvores. É ele
Quem m’as ensina amar, são dele os versos,
Com que ao bosque de Pã cantei louvores.

(Antonio Feliciano de Castilho)

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