sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

TAPIRAÍ, TERRA DOS MURIQUIS-DO-SUL

Reserva no interior paulista recebe título mundial como refúgio do maior primata das Américas. 
Muriqui-do-sul está em perigo de extinção; Legado das Águas conserva de 8 a 10% da população total da espécie.
Por Gabriela Brumatti, Terra da Gente


Muriqui-do-sul é o maior primata das Américas e encontra-se ameçado — Foto: Associação Pró-Muriqui.
A maior mancha contínua de Mata Atlântica, localizada a poucas horas da maior cidade da América Latina conserva, na maior reserva privada brasileira do bioma, a maior população conhecida de muriquis-do-sul, o maior primata das Américas
— Maurício Talebi (primatólogo)
Foi com essa união de superlativos que o Professor Doutor Maurício Talebi descreveu uma grande conquista para a região: a reserva privada Legado das Águas, com 31 mil hectares de floresta no município de Tapiraí (SP), foi classificada mundialmente como uma Área Prioritária Global e um dos últimos refúgios para conservação do muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides).
A indicação da área foi conferida pela IUCN (União Internacional Para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais), um dos principais instrumentos para avaliação da conservação das espécies. O mesmo órgão que, através da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, avaliou recentemente o muriqui-do-sul como uma espécie “criticamente em perigo” de extinção.
Talebi é primatólogo, professor Associado do Departamento de Ciências Ambientais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Campus Diadema, e coordenador científico do Instituto Pró-Muriqui, responsável pelo estudo realizado no Legado das Águas, desde 2013. “O reconhecimento como Área Prioritária Global traz a lógica de um local muito importante para o muriqui-do-sul, onde os esforços de pesquisa aplicada à conservação da espécie contribuirá para evitar a extinção e seu desaparecimento em natureza, o que poderá ocorrer em 50 anos, se nada mudar”, explica o primatólogo.
A ameaça à espécie é também um risco para toda a biodiversidade da Mata Atlântica. O maior primata das Américas é considerado jardineiro das florestas por espalhar sementes e uma espécie bandeira da conservação, o que significa que o sucesso em conhecer esse animal e mantê-lo vivo, é também o sucesso em proteger todas as outras espécies.

Muriquis-do-sul
O diretor da Reservas Votoratim, que mantém o Legado das Águas, Davi Canassa conta que, desde que verificada a presença do muriqui-do-sul no local, os gestores do parque buscaram entender as necessidades do animal. “A floresta está muito bem conservada e observar um animal nessa condição é muito difícil, ainda mais se tratando de uma espécie que se reúne em épocas do ano e se separa em outras”, explica.
Os muriquis ainda são animais que sofrem com uma pressão intensa da caça, de forma que se afastam diante de qualquer observador humano, o que dificultou o trabalho de Talebi. “Tínhamos que percorrer semanas ou, às vezes, até um mês para conseguir encontrá-los”.
A ação do primatólogo, porém, conseguiu mapear áreas de ocorrência dos macacos e aumentar o número de avistamentos e o tempo de contato visual com eles. “Nós mostramos que o habitat é adequado e capaz de suportar populações, conseguimos priorizar os locais onde eles ocorrem e apontar que no Legado das Águas há de 8 a 10% da população total da espécie, a maior concentração em uma área particular”, conclui.
Assim como a área do Legado das Águas ganhou destaque na conservação do muriqui-do-sul, o Parque Nacional do Iguaçu tornou-se referência para a proteção da onça-pintada e o Parque Estadual Morro do Diabo para o mico-leão-preto.

Área prioritária Global
Títulos assim reforçam as propostas de conservação. “Nós entendíamos que tínhamos que conhecer o território e aproximar as pessoas da floresta. Hoje fazemos um trabalho de entender a dinâmica dos animais, transformar em conhecimento científico e possibilidade de negócios, através do turismo de aventura. Isso mostra que é possível conciliar atividades produtivas e conservação da floresta”, afirma Davi Canassa.
Para Talebi, gostar e conhecer a natureza é o que resulta na proteção. “Se o ser humano é a origem do problema, ele é também a solução. Essa lógica é capaz de engajar outros parques e reservas particulares, que podem entender que ter uma parcela de Mata Atlântica em sua área é muito importante e quando há muriquis nela é ainda mais relevante para o mundo todo”.

G1.

Nenhum comentário:

Postar um comentário