Secretária do Ministério da Saúde contradiz Pazuello sobre data em que a pasta soube da crise em Manaus.
Por Redação Ucho.Info/25 de maio de 2021.Que o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, protagonizou um espetáculo de mitomania durante depoimento à CPI da Covid todos sabem, até mesmo os bolsonaristas menos radicais. Prestes a ser reconvocado pela CPI, que busca dirimir contradições no âmbito dos seus depoimentos, Pazuello sofreu um revés nesta terça-feira (25) com declaração de Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde.
Em depoimento aos senadores, Mayra, que é conhecida como “Capitã Cloroquina”, afirmou que o Ministério da Saúde soube da falta de oxigênio medicinal em Manaus através de e-mail da empresa White Martins, repassado à pasta por autoridades da capital amazonense. A secretária destacou que não foi informada sobre a falta de oxigênio no período em que esteve na cidade (3 a 5 de janeiro).
“Não houve uma percepção que faltaria. De provas, é que nós tivemos uma comunicação por parte da Secretaria Estadual que transferiu para o ministro um e-mail da White Martins dando conta que haveria um problema de abastecimento”, respondeu.
Em seguida, Mayra Pinheiro disse que a comunicação aconteceu em 8 de janeiro. Contudo, Eduardo Pazuello disse em depoimento à CPI que foi informado da falta de oxigênio em Manaus apenas na noite do dia 10 de janeiro.
No dia 7 de janeiro, a White Martins enviou e-mail à Secretaria de Saúde do Amazonas informando não ter quantidade suficiente de oxigênio para atender à demanda do estado. Na mesma mensagem, a White Martins aponta o concorrente Carboxi, que eventualmente teria oxigênio em quantidade para suprir a necessidade dos hospitais amazonenses.
Questionada sobre a divergência de datas, Mayra Pinheiro afirmou que o então ministro teve conhecimento do desabastecimento do oxigênio em Manaus no dia 8 de fevereiro.
“No dia 8 de janeiro, seis dias antes, nós já tínhamos iniciado o transporte aéreo de oxigênio para Manaus. Eu tomei conhecimento de riscos em Manaus no dia 10, à noite, numa reunião com o governador e o secretário de Saúde, quando eles me passaram as suas preocupações que estavam com problema logístico sério com a empresa White Martins”, afirmou Pazuello à CPI.
Uma nova convocação de Pazuello é tida como certa, já que senadores independentes e de oposição são maioria na CPI, o que garante a aprovação do requerimento. O ex-ministro, que nos depoimentos anteriores se valeu de decisão do STF que lhe permitiu ficar em silêncio para evitar a autoincriminação, terá de recorrer mais uma vez à Corte Suprema para não ser preso na esteira de suas mentiras.
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CPI da Covid: “capitã cloroquina” desmonta fala de Pazuello sobre ataque hacker ao aplicativo TrateCov.
Por Redação Ucho.Info/25 de maio de 2021.A incompetência que tomou conta da cúpula do Ministério da Saúde após o general Eduardo Pazuello, agora ex-ministro, assumir o comando da pasta é devastadora e preocupante. Em meio à mais grave crise sanitária dos últimos cem anos, o staff ministerial conseguiu a proeza de adotar comportamento errático, permeado por medidas que levaram milhares de brasileiros à morte por causa da Covid-19.
Em depoimento à CPI da Covid, que avança no Senado Federal, Pazuello disse que o aplicativo TrateCov, desenvolvido pelo ministério, foi retirado do ar após ser alvo de ataque de hackers. A declaração do ex-ministro é tão absurda, pois o aplicativo foi divulgado em matéria jornalística veiculada pela TV Brasil, da estatal EBC (Empresa Brasileira de Comunicação).
A fala de Pazuello, que já havia sido desconstruída anteriormente, foi contraditada nesta terça-feira (25) durante depoimento de Mayra Figueiredo, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde. Aos senadores, Mayra negou que o aplicativo foi “hackeado” ou teve seu conteúdo alterado pelo aludido criminoso cibernético, mas que foi alvo de “extração indevida de dados”.
Na verdade, o TrateCov foi retirado do ar em 21 de janeiro passado, após ser revelado que o aplicativo recomendava o chamado “tratamento precoce” a pessoas com sintomas que poderia ser de Covid-19 ou não.
Mayra Figueiredo afirmou que um jornalista teve acesso ao aplicativo e compartilhou o TrateCov na rede mundial de computadores, utilizando informações fora de contexto.
“O que foi feita foi uma extração indevida na madrugada do dia 20 [de janeiro], por um jornalista. Ele fez uma cópia da capa inicial dessa plataforma, abrigou nas redes sociais dele e começou a fazer simulações fora de qualquer contexto epidemiológico, causando prejuízos à sociedade”, relatou a secretária.
“Ele não conseguiu hackear. Hackear é quando usa a senha de alguém, entra dentro de uma plataforma. Foi uma extração indevida de dados. O termo que foi utilizado foi um termo de leigos. Hoje temos um laudo pericial que classifica a operação feita de extração de dados”, completou.
Defendido à exaustão pelo negacionista Jair Bolsonaro, o “tratamento precoce” consiste no uso de medicamentos sem eficácia comprovada cientificamente contra o novo coronavírus, a hidroxicloroquina. Como já ressaltou o senador Otto Alencar (PSD-BA), membro da CPI, a cloroquina não é antiviral, mas antiprotozoário. Mayra Figueiredo é defensora da cloroquina e alega ter estudos científicos que comprovam sua eficácia no combate ao SARS-CoV-2.
O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), questionou a depoente sobre eventual alteração no conteúdo do aplicativo, possivelmente por parte de terceiros, já que não houve ataque hacker. Mayra respondeu que não.
Pois bem, se não houve ataque hacker e tampouco o conteúdo do aplicativo foi alterado, tirá-lo do ar permite concluir que o governo pretendia utilizar o TrateCov para difundir a prescrição de medicamentos sem eficácia comprovada contra Covid-19.
Presidente da CPI da Covid, o senador Omar Aziz (PSD-AM) questionou a secretária do Ministério da Saúde com base no cenário mencionado acima. “Se não foi hackeado e não foi modificada a orientação ou determinação [do tratamento precoce], por que foi retirado do ar?”, questionou Aziz.
Mayra respondeu que a decisão de retirar o aplicativo do ar foi necessária para possibilitar a investigação sobre extração de dados. Ao que Aziz rebateu de forma contundente.
“Não houve hackeamento nenhum, doutora. A senhora disse aqui que não houve mudança no protocolo. Por que retiraram do ar? Se tinha tanta certeza que ia salvar vidas, por que não voltou?”, perguntou o senador amazonense. “Sabe quantos amazonenses morreram por falta de aplicativo? Centenas! Se tinha aplicativo que ia salvar vidas, por que não devolveu?”, emendou Aziz.
Ao final de sua fala, Omar Aziz classificou como “assassinos” todos os que criticaram o fechamento do comércio em Manaus no fim de 2020, pouco antes do colapso na saúde do Amazonas. “Esses assassinos da internet que ficam criticando lockdown mataram pessoas sem oxigênio na minha cidade”, disse Aziz.
Para concluir, não custa lembrar que o ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, coronel do Exército Élcio Franco, informou à Pfizer, em e-mail enviado em novembro de 2020, que enfrentava dificuldades para analisar a proposta do laboratório sobre a compra de vacinas por causa de vírus no sistema de computadores da pasta. Em suma, o amadorismo do governo é caso de polícia.
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