sábado, 27 de agosto de 2022

SÓ SABE DA HISTÓRIA QUEM BUSCA POR ELA



Até eu já fui um tantinho alienada em tempos de mocinha do iê iê iê. 
A imagem ainda me é latente de um desfile dos "Sem Terra", no início do movimento, em tempos bem idos. 
Quando em carrocerias de caminhões, homens e mulheres empunhando enxadas e foices causaram espanto e uma maldosa ignorância na comunidade que assistia das calçadas. Sim, isso aconteceu na esquina de casa, recordo com clareza o modo do nosso olhar e o que se dizia na época: "comunistas e anarquistas onde chegam invadem e destroem". 
Aquelas gentes vinham de outras cidades, porque lá na minha cidade não havia desemprego nem televisão. Havia sim, funcionário e patrão. Tempos singelos e "perfeitos", em meio a um povo oriundo da Europa pós guerra. 
Cresci por ali. Onde os sinos badalavam casamentos, despedidas e os corais anunciavam o Natal. Um berço de ouro, perante a imensidão do Brasil que por outras bandas penava amarguras. Naquele tempo os antepassados eram colonos. Carregavam nas costas ensinamentos duros de uma Alemanha nazista deixada além oceano.
Nunca eu vi em toda a minha existência alguém comparar aqueles colonos com os "Sem Terra" brasileiros. Desde então e desde sempre o injusto e cruel preconceito impera na nossa consciência. 
Ontem vendo a mocinha da TV dizer e indagar sobre o movimento, apresentadora qualificada como de primeira linha, percebi no seu olhar o mesmo desprezo que eu vi nas pessoas que estavam comigo naquele dia, naquela esquina da minha cidade. Foi então que eu me senti além e feliz por ter evoluído. 
Sabedora da história e da luta dos imigrantes. 
Hoje eu sei e respeito o MST, não por ideologia ou por moda, mas por ter ido atrás da verdade dos fatos, por ter ouvido e aprendido. 
Se você é um que como eu, um dia viu a turma passar naqueles caminhões, se aprofunde no que foi feito deles. Eles são parte da nossa história e venceram. 
Iguais aos nossos antepassados, são exemplo pro mundo. 
Vale a pena companheiro! Vale sim, nobre povo brasileiro. 
Se puder, conheça as lojas que vendem alimento orgânico produzido pelo MST. 
Melhor ainda é visitar um acampamento. 
Vá, não se acanhe! 
Eu aprendi que a foice é usada pra roçar.
Ah, ia me esquecendo. Lá também tem escola.

Vera Hirschmann


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