"ÀS QUE HÃO DE VIR"
- Ao fino espírito de Alcino Bertoldi, o poeta de "A Poeira da Estrada"-
Não venceste! Passaste em minha vida
Como passam invernos e emoções.
Nem esse amor deixou recordações!
Esquece tu a ventura nunca tida.
Nem notarás no peito meu, depois,
Ódio algum a ti. Só verás, querida,
A funda cicatriz, a dor sentida,
Contando ao mundo a lenda de nós dois.
Que sejas bem feliz! Que minha lira,
Pobre bronze, aqui não vá emudecer,
Logo aqui onde tanta vida expira.
Que eu assim siga até envelhecer.
Então nos meus finais dias, sem ira,
Lembrar-me-ei, sem nunca entristecer,
De quando te possui! Quando sentira
Toda uma primavera só de amor
A fazer-me sentir a então nativa
Existência; transpondo a própria dor
Das barreiras finais da primitiva
Vida, lembrar-me-ei duma moça loira,
Que conheci em um dia de agosto,
Bem linda como, quando o sol a doira,
A tarde de setembro é linda; gosto
Igual, beijo nenhum tem; primavera
Florida. de reger capaz seria
Dos mundos a divina sinfonia!
Mas que para mim foi uma quimera...
Um sonho bom de amor!
Sonhares cheios de ardor!
Deixa-me só cobrir o caminho de verso,
Por onde hão de mulheres outras todas vir.
E nos negros finais dias do meu adverso
Destino, quando toda esta vida ruir,
Ver-me-ás dos versos meus o incenso, a rir, beber,
E, bêbedo de amor, tecerei com suas rimas
Áureo leito em que eu, feliz, hei de morrer,
Depois de ter amado o que é adorado!
Depois de ter sonhado o que é amado!
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