quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

REFLORESTAMENTO NO BANCO DOS RÉUS


                               

Vicente de Paula e Nohiyro Murakami foram pioneiros do reflorestamento na região. Figuraram, durante muitos anos, como agricultores, dentre os primeiros na cultura da batatinha, quando então resolveram investir, com recursos próprios, no reflorestamento. Nos anos 60 já possuíam 800 alqueires de eucaliptos nos municípios de São Miguel Arcanjo e de Capão Bonito, nos bairros de Abaitinga e Taquaral Abaixo, respectivamente. Entregavam os produtos, semanalmente, a Alplan S/A- Madeiras Aglomeradas, cerca de 3 mil metros cúbicos de madeira descascada. 
De onde veio esse tal de eucalipto? 
Diretamente da Austrália, no século XIX. As empresas belgo mineiras, numa propaganda de época, alegavam que devemos ao eucalipto o mesmo reconhecimento dispensado a outros ‘imigrantes’ como o café, o milho, o arroz, o feijão, a laranja, a soja, a alface, o tomate, tornados elementos básicos na alimentação do brasileiro. Enquanto isso, o eucalipto fornece madeira para a fabricação de móveis, portas, armações, postes, além de ser matéria prima para a produção de papel e celulose, chapas e aglomerados, alcatrão, fenóis, tintas, resinas e pigmentos. 
Usado também no parque siderúrgico como fonte de produtos químicos para a indústria farmacêutica e de cosméticos, ainda protege o solo da erosão, substitui as matas nativas na produção de madeira e carvão, dá sombra e abrigo a aves e mamíferos, ajuda a proteger e conservar a flora e a fauna do Brasil, além de renascer a cada corte. 
Cada eucalipto pode sequestrar até 20 quilos de gás carbônico por ano. 
O Brasil ocupa hoje a 11ª colocação no ranking mundial da produção de papel e a 7ª na de celulose. O setor gera uma receita de cerca de 20 bilhões de dólares, oferecendo quase três milhões de empregos diretos e indiretos. 
Em regime de produção existem mais de cinco milhões de hectares reflorestados com eucaliptos e pinus. A demanda estimada para o ano de 2.005, conforme levantamento da própria Sociedade Brasileira de Silvicultura, alcançará 9,2 milhões de toneladas. Para que a indústria nacional possa atender o mercado interno e manter sua posição no ranking internacional, hás necessidade urgente de investimentos para o plantio de pelo menos 170 mil hectares por ano, nos próximos dez anos. 
Já para a demanda de lenha e carvão vegetal de uso industrial, será necessário plantar algo em torno de 250 mil hectares até o ano 2.005. 
Para atender ao setor moveleiro, para o ano de 2.010 será necessário incorporar 130 mil hectares a mais de florestas, anualmente. 
Como se vê, a indústria de transformação de madeira exige a incorporação de novas áreas de plantio para continuar a crescer. 
Isso vem intrigando o prefeito Roberto Tamura, de Capão Bonito, que no início do mês de março de 2.003 convocou o Conselho de Desenvolvimento Rural e o Conselho Municipal do Meio Ambiente para discussão sobre o assunto, presentes também representantes de Ongs, Sindicatos, Associações, Imobiliárias e Cooperativas. 
O que levou a isso, a essa preocupação generalizada foi o fato de que grandes grupos de reflorestamentos como a Suzano, a Ripasa, a Orsa e alguns outros menores estarem negociando a aquisição de diversas áreas de terras agriculturáveis para o plantio de eucaliptos. 
O Grupo Votorantim já é propriedade de um terço das melhores terras do município. E comparativamente com a Cooperativa Agrícola de Capão Bonito, que utiliza uma área infinitamente menor, vem oferecendo muito menos emprego, pois no processo de reflorestamento, a mecanização é quase total. 
Ary Russo, da Associação Comercial, afirma que o comércio de Capão Bonito só vai bem se a agricultura for bem. 
Mas como impedir o processo? 
Talvez lançando mão do ISO 14000 que somente fornece o selo Verde para projetos que atendam a uma função social. 
Enquanto isso, o prefeito Tamura está solicitando do ITESP um levantamento sobre a situação das terras do município. Também haverá a formação de um grupo de estudos para encaminhar a questão a um amplo encontro com a presença de deputados federais da região para debate e solução dos problemas. 
É o futuro da agricultura regional que estará sendo discutido, mesmo porque não há quem coma eucalipto. 


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