quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

CESTOS DE BAMBU



Na cidade de Tapiraí, nem dez mil habitantes, entrada para o Parque Estadual Carlos Botelho, Reserva da Biosfera, tombada pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade, as senhoras Ana Alves de Faria ( foto de Thaís Serrano) e Florinda Maria de Jesus Silva mantém a arte de trançar bambus - ou taquaras, como gosto de chamar -, muito em voga antigamente. 
Meu pai, o Gijo Valio, fazia isso com grande perfeição.
Lembro que ele chegava com feixes e feixes de taquara, jogava tudo no terreiro. 
Era gostoso ouvir o barulho que fazia.
Aí, então, depois que ele descansava, tomando umas belas cuias de chimarrão, sentava no chão, ia abrindo as taquaras, ao comprido, uma a uma, na largura que lhe conviesse.
A largura dependia do que ele iria armar. 
Podia ser um cesto grande para guardar espigas de milho ou feijão.
Podia ser menor e mais comprido para fixar nos galinheiros servindo de ninho para as galinhas dormirem, botarem seus ovos e chocarem seus pintinhos.
Podia ser uma apá grande usada para abanar arroz ou feijão, depois que os homens malhavam, tirando as palhas. 
Ou uma apá menor, como a que dona Ana, lá de Tapiraí, segura nas mãos, usada para escolher feijão.
Também poderia ter forma de cesta para ser utilizada no recolhimento de frutas e legumes ou cestas menores como as usadas por nós, em criança, para recolher ovos que a galinhada poedeira deixava jogados pelo mato.
O segundo passo era alisar bem a taquara com a própria faca para que não machucasse as mãos quer no manuseio quer no trabalho final. 
Daí começava a arte.
Primeiro, os fundos do cesto, o trabalho mais delicado. 
Dava-se voltas na taquara e ela não se quebrava. 
O que é a natureza e a criação do homem!
Depois de armado o fundo, começavam as tranças.
O fechamento também era uma arte.
Arte da paciência.
Meu pai, que nunca foi tão paciente, nesses momentos sentia-se tão bem que nós sentávamos junto dele e cada qual tentava fazer a sua cestinha.

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