terça-feira, 28 de julho de 2020

MAURA DE OLIVEIRA PINTO, GENTE DE RESPEITO


Uns nascem para correr atrás dos seus próprios sonhos e outros para fazer os sonhos dos outros acontecerem.
Neste segundo grupo, encaixa-se a dona Maura de Oliveira Pinto, cidadã são-miguelense, título recebido da Câmara Municipal de São Miguel Arcanjo pelos inúmeros serviços prestados.
Filha de Amâncio de Oliveira e Benedita Maria de Arruda, nasceu em Porangaba aos 10 de agosto de 1919, onde estudou até o segundo ano escolar, porém, cursando a universidade da vida possuía uma experiência tamanha que não se aprende nos bancos escolares.
Com o pai, aprendeu a arar a terra, a ordenhar vacas, a plantar e apanhar algodão, a fazer rosquinhas, a rebentar pipoca, a lavar roupas, cuidar de porcos, atender no armazém...
Algumas coisas que aprendeu teve que fazer aqui em São Miguel para ajudar o marido, como, por exemplo, lavar roupas - lavava roupas para dona Augusta do Michel Abrão - e fazer rosquinhas e pipoca para vender.
Conheceu Licério aos 12 anos de idade, pois ele trabalhava "por dia" para o seu pai. Trabalharam juntos no arrozal deste.
Nessa época, ela já sentia enorme vontade de ajudar pessoas carentes, como a Nhá Maria Carretel e uma outra senhorinha cheia de netos que eram ajudadas por ela em Porangaba.
Como ela fazia para ajudar essas pessoas?
"Surrupiando" o que podia do armazém do pai e escondendo tudo na lata com a qual saía de casa para buscar água.
Dona Maura enjeitou um casamento rico e casou-se com Licério aos dezesseis anos de idade. 
A vida foi ficando mais difícil e se mudaram de Porangaba para Paraguaçu Paulista, até que um dia chegaram por lá os Barsanti, de Itapetininga, dizendo que São Miguel Arcanjo estava precisando com urgência de uma carpintaria.
Decidido a experimentar, Lícério veio para cá junto com o pai, Euclides, que era carpinteiro, para trabalharem na oficina do Hildebrando, mestre de obras na cidade.
Nos anos 40, a família se junta para então viver em São Miguel. 
Era o tempo do Dr. Fábio, médico e do padre Humberto. Na cidade não havia nem funerária.
Onde hoje é o Pedro Ivassaki, nasceu a oficina do Licério. Mais tarde, a "Oficina Bom Jesus" já produzia carrocerias, portas, venezianas e se tornava respeitada por todos os são-miguelenses.
A princípio, a família residiu num sítio no bairro Turvo dos Hilários; só mais tarde é que veio morar na cidade: a primeira casa onde moraram era um barracão nos fundos de uma residência, com a cozinha fora.
Com o tempo, acabaram mudando para a casa da frente, onde morou o filho do Pedro Iwassaki.
Dona Maura muito cedo começou a mostrar seu bom coração nos trabalhos que mantinha à frente da administração da Igreja Matriz, ao lado do padre Francisco Ribeiro. Tanto que quando o presidente do Asilo, à época Antonio Ferreira Leme, pediu insistentemente que ela fundasse a Conferência Feminina, o santo padre a liberou para a missão a qual presidiu por longos quinze anos.
Durante sete anos, foi também presidente do Asilo. 
De uma só vez, conseguiu aposentar 14 pessoas; os remédios e as roupas que eles necessitavam eram comprados com o dinheiro deles mesmos.
Dona Maura fazia questão de dar banho neles e colocá-los na cama, todos os dias.
Como não havia na cidade o departamento de assistência social, tudo acontecia na casa dela.
Uma das grandes mágoas da dona Maura foi ver o Asilo construído tão longe da Santa Casa, dificultando o atendimento médico aos idosos. Os médicos não gostavam de ir tão longe para atender os doentes.
Nas lembranças dela ficaram os caixões - quantos caixões que tiveram que ser cedidos graciosamente por sua família aos moribundos da cidade! 
E os patrocínios para as quermesses, quantos?
E para ver a Igreja Matriz terminada, quanto trabalho!
E para ver pessoas pobres alimentadas, quanto empenho! 
Mas Deus ajudou muito essa família que veio para ficar e aqui chegou a possuir quase duzentos alqueires de terras.
No final de 1.973, dona Maura fez parte da Comissão encarregada da organização e ornamentação de ruas para as festividades natalinas e distribuição de brinquedos ao lado de Clarice Terra França, Paulo Okaeda, Conceição Cunha, José Pedro dos Santos, Antonio Alves Machado, Maria Aparecida Silva Fogaça, Miguel Gomes, Maria Elena Pinheiro, Maria Helena Assunção Silva, Maria Sueli Rosa, Maria Marcondes e José Orlando Nunes.
Uma grande tristeza: a partida de Licério em 20 de maio de 1993 e da filha Rosa também num 20 de maio de 2.000. 
Para dona Maura, a vida foi um grande aprendizado que ela sempre tirou de letra nas ocasiões mais tristes e fez sempre questão de transmitir aos netos e bisnetos.
Deus lhe pague, dona Maura!

OBS: Se viva, Maura de Oliveira Pinto, a dona Maura, estaria fazendo 101 anos no próximo mês de agosto.

(A biografia de dona Maura fez parte de um projeto de autoria de Luiza Válio intitulado GENTE DE RESPEITO, publicado no extinto jornal A Hora de São Miguel Arcanjo no ano de 2006, poucas semanas antes de ela falecer.)

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