quarta-feira, 19 de outubro de 2022

HOMENAGEM AO "TIO MIGUER"


Nosso querido professor, poeta, trovador sertanejo, artesão e pintor de quadros, Miguel dos Santos Terra veio ao mundo no Sítio do Pocinho, em São Miguel Arcanjo, no mesmo dia em que nasceu o Menino Jesus, só que em dezembro de 1921, um mês depois do nascimento do seu amigo Gijo Válio, meu pai.
Filho do Major Juvenal dos Santos Terra, era fruto do seu segundo casamento com Roberta Monteiro. Ao todo, teve dezenove irmãos.
Apelidado "tiu Miguer", formou-se pelo Instituto de Educação Peixoto Gomide e suas primeiras aulas foram dadas nas salas escolares do Vale do Ribeira.
Grande poeta, seus poemas sempre foram entoados na língua caipirês.
Como este:

"MEU FEJOÁ"

Varei a vida inteirinha
Lidando cum prantação.
Pur mais que cum roça eu lidasse
pur mais que cum roça eu prantasse
num mudava a situação.
Da noite inté a lua cheia
quantas foram as afrição,
parecia inté as coisa feita
virava tudo im dispesa
nunca sobrava um tustão.
Um ano dobrei u prantio
prantei fejão, prantei mio...
pra se vê, nasceu pareio.
Mor disso fui na capela
fiz premessa di jueio
ofertando pra São Juão
da coieita arroba i meia
se tudo fô a cuntento
a safra di mio e fejão.

De noite bem sussegado
durmia um sono largado
i sonhava c`o meu feijoá.

Uma noite uns arrebento
pricava lá nu relento
descabava um temporá.
Quage uma hora ventando
dessis qui passa ameaçando
querendo tudo arrancá,
nu teiado pipocava
as pedras qui dispencava
mais de hora sem pará,
eu de São Juão me alembrava
i nu oratório fui rezá.

Nu ôtro dia bem cedinho
rejeitei meu cafezinho
corri vê meu fejoá,
u meu coração parpitava
quando na roça eu chegava
quiria do peito sartá.
Quando cheguei, Virge Santa!
U verde das prantação
pra minha admiração,
largô frô meu fejoá.
Minha roça tava sarva,
frorida, interinha, bem arva.
- Quem me valeu foi São Juão.

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