Atraídos pela oferta de trabalho em Caxias do Sul, polo econômico da serra gaúcha, senegaleses formaram uma onda de migração que desafia autoridades do Sul e gera preocupações humanitárias.
Moradores da região conhecida pela produção de uva e pela forte influência italiana convivem com centenas de imigrantes africanos que tentam a vida no Brasil.
O frio da região é um agravante. No inverno, os senegaleses chegaram sem roupas próprias e lotaram um albergue para moradores de rua.
A mesma situação ocorreu com os senegaleses em Passo Fundo.
Os imigrantes são quase todos homens, jovens, muçulmanos e sem autorização para permanecer no Brasil.
Em Caxias, um centro de apoio ligado à Igreja Católica se tornou ponto de peregrinação.
No início do mês, cerca de 15 senegaleses disputavam a atenção da freira Maria Gonçalves, 38, principal ponte da comunidade africana com o restante da cidade.
A maioria deles só fala o dialeto wolof e procura ajuda para obter emprego e documentos.
"A cidade foi pega de surpresa", diz a freira.
Ao menos 620 senegaleses estão cadastrados no local.
Em Passo Fundo, há cerca de 400.
Sem visto, os imigrantes pedem à Polícia Federal concessão de refúgio. Enquanto o pedido tramita, podem obter carteira de trabalho brasileira e um emprego formal.
Com o movimento de imigrantes, o centro da igreja passou a receber empregadores de indústrias, frigoríficos e da construção civil em busca da mão de obra.
Organizados e unidos, os senegaleses alugam e dividem casas e ajudam a bancar gastos de conterrâneos ainda sem trabalho.
A relativa boa adaptação ao interior do RS estimula parentes e amigos na África a tomar o mesmo rumo.
Como a comunidade é numerosa, os novos imigrantes optam pelo Estado pela proteção garantida pelos "veteranos".
Líder dos senegaleses em Caxias, Billy Ndiaye, 26, diz que o desemprego é a causa do êxodo. "Quase todo mundo saiu por causa de trabalho. Nossas famílias são grandes e não se sustentam", diz.
Há dois meses no RS, Mbaye Thiam, 36, afirma que o Brasil ganhou "boa imagem" como país de rápido desenvolvimento e de eliminação da pobreza.
"É o país da Copa e da Olimpíada", disse.
O custo de vida, porém, assusta os imigrantes, que ganham cerca de R$ 1.000 mensais por aqui.
Além dos gastos cotidianos, eles têm de recuperar as despesas com a viagem ao Brasil. A entrada no país é pelo Acre, em rota aberta por imigrantes do Haiti.
Foto de Vinicius Costa/Folhapress
Leia mais na "Folha de São Paulo"
Nenhum comentário:
Postar um comentário