Por Julia Duailibi
Julia Duailibi é comentarista de política e economia da GloboNews.
Bolsonaro encaminha para Toffoli texto que afirma que quem pede intervenção militar deve dizer quem ocupará a cadeira do presidente.
Bolsonaro discursou em manifestação pró-intervenção em Brasília em 19 de abril, dia do Exército, e disse não querer 'negociar nada'. 'Agora é povo no poder', afirmou na ocasião.
23/04/2020
Júlia Duailibi comenta sobre mensagem enviada ao ministro Dias Toffoli.
O presidente Jair Bolsonaro encaminhou ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, um texto de autoria não identificada que afirma que quem defende a intervenção militar deve dizer quem ocupará a cadeira do presidente da República. Leia a íntegra do texto abaixo.
"Aqueles que pedem Intervenção Militar (Art. 142) ANTES, devem decidir qual General ocupará a cadeira do Capitão Jair Bolsonaro. Aqueles que pedem AI-5 ANTES, devem mostrar onde está na Constituição tal dispositivo [sic].", diz o texto.
A mensagem, obtida pelo blog, foi revelada inicialmente pela jornalista Vera Magalhães, do jornal "O Estado de São Paulo". O texto fazreferência aos protestos do último domingo (19), dia do Exército, quando manifestantes foram às ruas em meio à pandemia do novo coronavírus e defenderam medidas ilegais como o fechamento do Congresso Nacional e do STF e a reedição do AI-5, ato institucional que endureceu o regime militar.
O texto enviado por Bolsonaro afirma que "toda manifestação é justa e garantida em nossa CF [Constituição Federal]", mas pede para que não haja ataques contra a Presidência, o Supremo ou o Congresso. "Portanto vão para as ruas, mas tenham uma pauta real, objetiva, com foco na missão."
Bolsonaro chegou a ir à manifestação que ocorreu em Brasília, contrariando as recomendações de isolamento social das autoridades nacionais e internacionais de saúde. No Setor Militar Urbano da capital, em frente ao Quartel-General do Exército, o presidente discursou aos manifestantes, afirmou não querer "negociar nada" e disse que "agora é o povo no poder".
Nesta terça-feira (21), após pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou aabertura de um inquérito para apurar a organização de atos contra a democracia no país. O caso está sob sigilo, e foi autorizada a busca de provas pedidas pelo Ministério Público Federal.
O caso foi para a Suprema Corte do país por ter deputados entre os alvos. O presidente Bolsonaro, no entanto, não está entre os alvos do pedido da PGR. No dia seguinte ao ato em Brasília, Bolsonaro defendeu Congresso e STF "abertos e transparentes".
Trecho do texto que Bolsonaro enviou a Toffoli também afirma que "o próprio Presidente tem dito que deve lealdade ao povo, assim como as Forças Armadas". "Unam esforços, o povo quer um Brasil diferente do que temos ainda, mas para isso deve escolher suas pautas, e também suas armas democráticas", completa.
Veja a íntegra do texto encaminhado por Bolsonaro
Aqueles que pedem Intervenção Militar (Art. 142) ANTES, devem decidir qual General ocupará a cadeira do Capitão Jair Bolsonaro.
Aqueles que pedem AI-5 ANTES, devem mostrar onde está na Constituição tal dispositivo.
Toda manifestação é justa e garantida em nossa CF, portanto vão para as ruas, mas tenham uma pauta real, objetiva, com foco na missão.
Não ataquem Presidência, Supremo ou Congresso, mas aquilo que você julga que deve ser mudado.
Exijam ações, cobrem votações, critiquem sentenças, vocês atingirão seus objetivos.
O próprio Presidente tem dito que deve lealdade ao povo, assim como as Forças Armadas.
Unam esforços, o povo quer um Brasil diferente do que temos ainda, mas para isso deve escolher suas pautas, e também suas armas democráticas.
Dia 19, dia do Exército, o Presidente bem disse: "Agora é o povo no poder. Mais do que o direito, vocês têm a obrigação de lutar pelo país de vocês."
E concluiu: "Contem com o seu Presidente para fazer tudo aquilo que for necessário para que nós possamos manter a nossa democracia e garantir aquilo que há de mais sagrado para nós, que é a nossa liberdade.
"VÁ E VENÇA"
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