HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS: RADIOFONIA
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Santos era cidade conversadeira. Falar o indivíduo em qualquer lugar que estivesse era necessidade premente. Conversava-se nos bondes, nos seus pontos de parada, ao redor das bancas de jornais. Depois das cinco da tarde iam todos para as calçadas em frente de suas casas e as conversas se esticavam.
(...) Mas coisa extraordinária! De uma hora para outra esses grupos nas calçadas foram se rarefazendo e as cadeiras desaparecendo. Ali por volta de 1942 já não se viam cadeiras ao longo dos passeios do Macuco: eram as novelas radiofônicas que chegavam com a sua força devastadora atraindo para junto da caixa de madeira do receptor jovens e velhos. As novelas radiofônicas esvaziaram as ruas de Santos e impuseram um padrão novo de comportamento. Visitas depois do jantar, nem pensar; saídas noturnas reduzidas ao máximo. Aquilo era novidade danada!
A família reunida, em silêncio, junto ao aparelho:
hábito que começou com o rádio, continuou com a TV
Diálogos rápidos concatenados em tramas amorosas e cheias de aventuras, tudo em língua portuguesa e ao contrário das fitas de cinema, ao alcance de qualquer um, mesmo analfabetos. De São Paulo chegava-nos o teatro Manuel Durães; aos sábados à noite o Cinema em Casa, de Walter Jorge Durst.
A Rádio Atlântica e Rádio Clube de Santos logo criaram grupos de teatro de altíssimo nível. Áurea Domingues, Nena Nascimento, Roberto Mauá, Arnaldo Gonçalves, Antônio Nascimento, Armando Rosas, Vicente Leporace, Bereny Camargo, Iracema Gomes. Nomes de novelas chegam-me daquele passado remoto: "Lá Onde Florescem os Cafezais", "A Garota do Flamengo", "Gisela, a Condessa do Império". Depois viria o "Direito de Nascer", dramalhão mexicano, com Mamãe Dolores e Albertinho Limonta, e que iria criar escola na futura TV brasileira.
A mudança de hábitos foi completa. Ao terminar a Hora do Brasil, todos se achegavam ao rádio em semi-círculos ou se amontoavam pelo chão... as luzes eram apagadas e por fora as casas pareciam túmulos... as bocas se fechavam e os olhos se arregalavam. As moças criavam as suas imagens idílicas e os seus príncipes encantados a partir daquelas vozes açucaradas que saíam do alto-falante. A novela radiofônica impôs a todos a tirania do silêncio. Ousasse alguém levantar a voz ou fazer um ruído mais forte e já era fulminado por muitos olhos. A rua toda silenciava.
Elenco de um dos primeiros programas humorísticos do rádio brasileiro, A Voz do Mangue, que era apresentado no início da década de 1930 pela PRB-4 Rádio Clube de Santos. Da esquerda para a direita, em pé, José de Barros Pimentel, Nelson Boturão, José Luiz Lopes (Dito) e Odil Joppert; sentados, Querubim Corrêa, Neide Sá e José Teixeira (Coronel Juvêncio Picafumo)
Foto incluída no livro Histórias que o Rádio Não Contou, de Reynaldo C. Tavares
Jovino de Melo - Contou o pesquisador e jornalista Olao Rodrigues, em sua obraVeja Santos! (2ª edição, 1975, edição do autor, Santos/SP) que "Jovino de Melo foi o primeiro operador técnico de estação radioemissora de Santos, tendo trabalhado no Rádio Clube e na Rádio Atlântica. Incansável batalhador da Associação dos Radialistas e Publicistas do Estado de São Paulo, além de haver servido ao público desde os primórdios do Rádio em Santos, orientou vários programas e deu a mão a elementos iniciantes, que se tornaram autênticos valores do radialismo nacional. Apesar de dotado de apreciáveis qualidades técnicas, Jovino de Melo era cidadão extremamente modesto, preferindo sempre escudar-se no anonimato. Um dos fundadores da Rádio Clube de Santos."
O técnico Jovino de Melo foi o grande precursor da radiofonia santista.
Relatou Olao que a lei 2.340, de 30/12/1960, do prefeito municipal engenheiro Sílvio Fernandes Lopes, denominou Jovino de Melo a Rua Aprovada 536, que virou avenida pela lei 2824, de 24/6/1964, do então prefeito comandante Fernando Ridel.
Mas a homenagem já havia sido proposta pelo projeto de lei 41 de 1959, elaborado pelo vereador Fernando Oliva e aprovado pela Câmara Municipal na sessão de 21/12/1960.
A Avenida Jovino de Melo foi inaugurada em 26/1/1963 pelo prefeito municipal José Gomes (que também foi radialista em Santos).
http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0067a.htm
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