Em setembro de 1892, com 44 anos de idade, Candido Longo desembarcou do porão do navio Cittá di Genova no porto de Santos, com a mulher, Antonia, e os cinco filhos, provenientes de Saletto, região do Vêneto, na província de Pádua, em Itália.
Como os outros imigrantes, os Longo encaminharam-se à Hospedaria de Imigrantes do Brás; dali, direto para uma fazenda de café, na região de São Carlos.
A sorte da família mudou, quando Candido propôs-se a construir uma cabeceira de granito para uma ponte situada numa linha da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro: quando chovia, as locomotivas não conseguiam passar por ela, por causa da enxurrada. E Candido Longo foi convidado a trabalhar para a Mogiana, na cidade de Amparo, onde, mais tarde, abriu sua própria marmoraria.
Como na Itália, esculpia imagens de santos para igrejas e também produzia esculturas para túmulos. Santo Juliano, o filho caçula, seguiu os passos do pai. Em Amparo, casou-se com a italiana Brigida Rinaldi, com quem teve nove filhos.
A grande família se mudou para Piracicaba, onde instalou outra marmoraria; em vez de esculpir santos e anjos, agora os Longo atuam mais na construção civil.
Suas peças de mármore e granito estão em casas e prédios famosos da capital paulista, como a mansão do banqueiro José Safra, que se espalha por 11 mil m² no bairro do Morumbi. José Benedicto Longo, filho de Santo Juliano é quem está à frente do negócio.
Um dos bisnetos de Candido Longo, Fausto Longo, começou a interessar-se pela genealogia da família. Quando já era arquiteto, ele acabou reconstruindo em um só dia de 1987 a trajetória dos Longo. Foi quando presenciou as obras de restauração do Museu do Imigrante, a antiga sede da Hospedaria de Imigrantes do Brás.
- “Tinha uma sala com centenas de livros de registro, que estavam sendo microfilmados. Quando me explicavam isso, um rapaz entrou e colocou um livro sobre a mesa. Abri e o primeiro nome da lista era o do Santo Juliano Longo”, lembra Fausto, referindo-se ao avô que chegara ao Brasil com 7 anos. - “Fui embora felicíssimo. Às 5 horas da tarde do mesmo dia, me ligaram de Amparo. A prefeitura estava realinhando as calçadas da cidade e tinha quebrado um degrau da entrada da casa onde havia morado minha família. Quando quebraram, encontraram uma caixa de metal com documentos e fotografias.”
A caixa de metal tinha sido concretada por Santo Juliano durante a Segunda Guerra Mundial, para escapar da perseguição promovida pela polícia política do Brasil contra cidadãos originários dos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão).
Fausto conta que assim que completou 18 anos, tratou de se filiar ao Movimento Democrático Brasileiro, o partido que fazia oposição ao regime militar:
- “Amanheci na casa de meu professor de português, Frederico Alberto Blaawn, que era o secretário municipal do MDB, e assinei o livro de filiação.”
Dois anos depois, ele ajudou a fundar o Salão Internacional de Humor de Piracicaba; era cartunista desde os 14/15 anos.
A ideia desse salão surgiu em conversas de bar, como se fosse uma forma de resistência à ditadura; ganhou fôlego com o apoio de Jaguar e Ziraldo (do O Pasquim).
Fausto Longo chegou a ser vereador de Piracicaba pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).
Hoje, FAUSTO LONGO é SENADOR DA ITÁLIA.
É casado em terceiras núpcias com a designer de produtos Sheila Brabo.
A primeira esposa chamava-se Ivana e era pianista. Com ela teve uma criança. Perdeu mulher e filho numa véspera de Natal, ele com 23 anos, quando dirigia um Maverick por uma estrada de terra inundada pelas águas do Rio Piracicaba. Perdeu o controle da direção: Ivana e o filho de dois anos foram levados pelas águas; ele e as duas cunhadas, que estavam no banco de trás, sobreviveram.
Do segundo casamento, com a publicitária Jocelyne, Fausto teve três filhos: Lucas ( também é cartunista), Leonardo e Luigi. Como o pai, os filhos tem dupla cidadania.
- “São duas realidades. Na Itália, o que vale é o DNA, o sangue transmitido de geração para geração. Quem tem a ascendência, é italiano. No Brasil, vale ojus soli (direito de solo). É brasileiro quem nasce no território brasileiro. Não existe conflito”, diz Fausto.
A ideia de atuar na vida política da Itália ganhou força em 2001, assim que o então ministro Mirko Tremaglia conseguiu aprovar a lei do direito a voto a italianos e descendentes espalhados pelo mundo.
Em 2008, Fausto concorreu sem sucesso a uma cadeira de deputado pelo Partido Socialista Italiano (PSI).
Nas eleições de fevereiro, o PSI entrou na coligação liderada pelo PD, pela qual Fausto conquistou a cadeira de senador. Pela legislação eleitoral italiana, a América do Sul tem direito a eleger dois senadores e quatro deputados. Cinco brasileiros natos e dois italianos que vivem no Brasil entraram na disputa. Dois se elegeram deputados: Fabio Porta e Renata Bueno.
No Palazzo Madama, uma de suas prioridades será criar mecanismos para que os italianos tenham no currículo escolar a história da imigração:
- “Metade da população teve de deixar a Itália numa miséria desgraçada para a outra metade chegar onde chegou. Eles tem de entender o processo histórico e valorizar os 80 milhões que estão fora. Foram várias as correntes migratórias. Primeiro, no século 19, nos tempos da miséria. Depois, por causa da Primeira e da Segunda guerras, que expulsaram muita gente. Agora, temos uma nova onda. A Itália não oferece mais esperança para os seus jovens e o Brasil tem um horizonte imenso para crescimento.”
Longo foi o primeiro brasileiro a assumir um cargo no Parlamento italiano como SENADOR.
ELEITO EM MARÇO DE 2013 POR VOTOS DE ITALIANOS RESIDENTES NA AMÉRICA DO SUL E DAQUELES QUE POSSUEM CIDADANIA ITALIANA, SEU MANDATO VAI ATÉ 2018.
Fonte: Revista Brasileiros, reportagem de Luiza Villaméa.
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