sábado, 25 de agosto de 2018

JÁ OUVIU FALAR DA RENDA DE BILROS?

Os mais velhos, talvez mais velhos do que eu, já ouviram e até aprenderam a tecer desse tipo de renda.
Ninguém sabe de onde surgiu a ideia, mas dessa forma de trabalhar surgem coisas lindas.
Como?
Do site Ruralea, português, mando para cá.


A renda de bilros é realizada sobre uma almofada (Brasil) dura, o rebolo (nome dado à almofada em Portugal), cilindro de pano grosso, cheio com palha ou algodão, cujas dimensões dependem da dimensão da peça a realizar, coberto exteriormente por um saco de tecido mais fino.



É um trabalho formado pelo cruzamento sucessivo ou entremeado de fios têxteis, executado sobre o pique e com a ajuda de alfinetes e dos bilros. 
O pique é um cartão, normalmente pintado da cor açafrão para facilitar a visão por parte da executante, onde se decalcou um desenho, feito por especialistas e em papel quadriculado, cuja origem está na criatividade da autora, que por vezes recorre à estilização de objectos naturais como as flores e animais. 
Os alfinetes fixam o trabalho ao pique e são colocados em furos estrategicamente efectuados no desenho base. 
O bilro é um artefacto de madeira em forma de pera alongada onde é enrolada a linha (fio têxtil) que vai sendo descarregada à medida que o trabalho avança. 
Todo o trabalho é executado com o auxílio de uma almofada cilíndrica, onde é fixado o pique, que, por sua vez, está pousada sobre um banco de madeira cuja forma permite a fácil alteração da posição da almofada, que roda sobre si, enquanto permite uma posição cômoda a quem executa.



No reinado de D. João V o país foi inundado e influenciado pelas rendas com origem na Flandres, dado que o protocolo da corte obrigava ao uso das rendas flamengas, facto que veio prejudicar o desenvolvimento das nacionais. 
Esta situação originou a revolta das rendeiras nortenhas que enviaram o seu protesto, perante o rei, através da vila-condense Joana Maria de Jesus, que conseguiu permissão para o uso das rendas nocionais em lenços, lençóis, toalhas e outro bragal de casa, continuando proibido o seu uso pessoal. As rendas nacionais foram libertadas destas peias em 1751, no reinado de D. José, passando a poder ser usadas na roupa branca de uso das pessoas, toalhas, lençóis e outras alfaias da casa. Porém a entrada na capital das rendas feitas no resto do país era sujeita ao acompanhamento de guias passadas pelos escrivães das câmaras, embora, pelo facto de na sua feitura se empregarem somente pessoas pobres, estivessem isentas de impostos.


E foi assim que na classificação das rendas se passou a denominar de aristocráticas, hoje em Peniche chamadas eruditas, aquelas que imitam as estrangeiras por serem mais elaboradas e utilizando linhas finas, e as populares que são aquelas que tradicionalmente sempre foram feitas pelo povo.


“ONDE HÁ REDES HÁ RENDAS” e Peniche não foi exceção, como não foram quase todas as povoações do litoral onde se desenvolve atividade piscatória. 
Num livro publicado em 1865 pelo então capitão do porto Pedro Cervantes de Carvalho Figueira refere-se que umas senhoras, que na época contavam mais de oitenta anos, afirmavam que a sua tia/avó lhes mostrava piques das rendas que tinha feito em menina, o que atesta que as rendas, em Peniche, já se faziam em meados do século XVIII.

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