segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

UM DIA OS DOUTORES CHEGARAM

Chegaram os médicos, pelo menos em minha cidade, no final da década de 60. 
Com seus medicamentos fortes, foram enfraquecendo, principalmente as mulheres, mais sujeitas às mudanças de comportamento, segundo os doutores, devido às atribulações da própria vida que não ia além de cuidar da casa, do marido, dos filhos e dos animais.
Muitas mulheres ainda eram férteis. 
O argumento utilizado pelos médicos, em todo o Brasil, e em minha cidade também, era o mesmo de hoje. 
A vida psíquica vai seguindo seu curso e, de repente, não mais que de repente, eventos mentais podem acontecer; por exemplo, a depressão, e, neste caso vamos usar um remédio "contra a depressão". 
Mas se, ao contrário de deprimir, a vida levar as pessoas para dentro de um labirinto negro e elas, na ânsia por luz e liberdade, tornarem-se agitadas, eufóricas, agressivas e doidonas, então chegou a hora de usar os anti-maníacos que, na prática, são conhecidos pelo nome de "estabilizadores do humor". 
Pode acontecer de a vida encher-se de ansiedade, com muitos medos, agitação, estresse, etc... 
Nestes casos, vamos nos valer de um remédio anti-ansiedade, etcetera e tal.
Não houve ninguém, de família nenhuma no Brasil, e muito menos em minha cidade, que não tivesse entrado para o mundo das "drogas" desde a década em questão, pois não diziam os doutores que os remédios novos acabavam com todas as dores?
Sim, elas dopavam tudo o que significava desânimo, tristeza, "depressão".
Começaram a chover receitas para se comprar dos tais "psicotrópicos". 
Nome até pomposo!
Em todas as farmácias havia uns livros enormes, de capa escura, onde eram cadastradas todas as pessoas que precisavam dessas "drogas" ( os tais psicotrópicos) para viver.
Era gardenal, dolmadorm, valium, diazepan, frisium, sonebon, motival, somalium, lexotan, olcodil, mesmerin, zirbanil, librium, lorax, lexoton, melbril, diazetard, stelapar, neozine, natisedine, amplictil psiquiátrico, halcion, akineton, equilide, anafranil, inibex, frontal, diempax, rivotril, urbanil, madalen, psicosedin, diazelong, noctal.... 
Já parou para ver como aumentou a lista desses tais "remédios" nos dias de hoje?
Percebeu o que aconteceu então?
Parece que uma legião de mortos vivos - ou vivos mortos? - sem coragem, sem ânimo, sem peito para nada começaram a surgir por todos os lugares e em minha cidade também.
Hoje, estão aí os descendentes: filhos, netos e até bisnetos desses usuários vivendo na mais ampla vegetação.
Em todo o país - e em minha cidade também -  para que vai servir essa casta, se o cérebro não sabe nem como responder às investidas do meio onde habita?


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