Rosemeire de Araújo Camargo, 46, moradora de Rincão, mãe de três de filhos, um deles menor de idade, conta que já fez praticamente de tudo na roça, como cortar cana, colher laranja, ser fiscal de turma. Carregou até caminhão. Só na Usina Santa Luisa foram mais de 18 anos.
Mas a função que exerce hoje, se vê raras mulheres, inclusive, a maioria das pessoas até foge e tem um medo terrível.
É que Rosemeire é coveira no cemitério Parque dos Lírios. “É o meu primeiro serviço sem ser na roça”, diz ela.
Única coveira mulher do local, ela conta que foi trabalhar na função, pois no cemitério estavam precisando de mais gente para trabalhar. “Pediram para que o meu companheiro que trabalha no local perguntasse se alguém aceitaria o trabalho, mas ele teve muita dificuldade em arrumar alguém, pois era só falar que era para trabalhar no cemitério que a grande maioria desistia, mesmo precisando de trabalho. Como estava difícil arranjar alguém e eu estava meio que parada lá com o negócio da laranja, pedi para meu marido sugerir ao seu patrão se eu poderia assumir a função. Ele aceitou e eu vim. Entrei no dia 3 de março de 2011”, diz acrescentando que ali se faz um pouco de tudo.
O primeiro enterro que realizou foi de um homem e quase foi encarado com normalidade, pois nunca tinha enterrado uma pessoa. “Senti algo ruim, senti pela família, pois é uma coisa muito triste, mas depois do primeiro...”.
Rosemeire diz que também abre os buracos para as covas. “Como as carneiras já estão prontas, tiramos a grama, cavamos, tiramos o tampão e pintamos. Depois fazemos o sepultamento, colocamos a divisória, repomos os tampões, a terra e arrumamos a grama”.
A cada novo sepultamento, ela pensa que é mais um serviço realizado, pois o final de todos é a morte e que, infelizmente, a vida do ser humano não está tendo muito valor, mas que bate uma dor quando o sepultamento é de criança, pois também tem filhos.
Rosemeire confessa que não tem medo e encara como um serviço normal, mas que nunca se imaginou trabalhando num cemitério. Acredita até que seja um dom. E é.
----Reportagem de Célia Pires para o jornal local O Imparcial.
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