domingo, 24 de dezembro de 2017

"ENTÃO É NATAL"

Eudes Quintino de Oliveira Júnior

Pois é, meu amigo. Mais um Natal chegando e mais um ano vai se findando. Na realidade, vai se esvaindo, deslizando lentamente entre os dedos das mãos, sem que você consiga segurá-lo, desfazendo todos os propósitos e sonhos arquitetados, realizados ou não, e colocando-o frente a frente com o próximo desafio.
Já que se vive em plena era da cibernética, pode-se dizer que o tempo passa mais rápido do que a nuvem, vem e vai como o vento e com ele se desfaz. Nem as cinzas são recolhidas, a não ser as que encontraram refúgio e se alojam em nossas memórias. Ali, cuidadosamente, guardamos as parceiras e testemunhas de nossas vidas. Machado de Assis já anunciava que os anos passam nos atropelando, os acontecimentos vêm uns sobre os outros e as sensações também.
Não é preciso remontar os anos da infância e mocidade para dimensionar o tempo. Basta ver o glorioso nascimento de cada dia, num venturoso parto e num indescritível crepúsculo.
Momentos e mais momentos que se somam e escrevem a história de todos nós. 
"Contemplar mais entardeceres, subir nas montanhas, nadar nos rios..." canta a inesquecível poesia de Jorge Luis Borges. Pois se não sabe, disso é feita a vida, só de momentos. Não perca o agora. Carpe diem, dizia o poeta romano Horácio, aconselhando a viver maravilhosamente seu dia de hoje. É um presente do presente.
Se o tempo é o senhor da razão, o homem é o senhor do tempo. E, diante de tamanho poder, que seja dada a ordem para que paralise, pelo menos por alguns instantes, a terrível contagem dos segundos que formam um minuto, que desafoga na hora e esta, por sua vez, multiplicada de forma imperdoável, acrescenta mais um dia. Mais um para o tempo, menos um para você.
Tempus fugit. Irreversivelmente o tempo foge. É o depurador da natureza.
Enquanto isso, na contagem regressiva, ainda com tempo, pois há o Natal e a passagem para o próximo ano, à moda antiga, expresso meus votos: que você possa apreciar a beleza singela da Sonata ao Luar, de Beethoven, e dançar rodopiando o Bolero de Ravel; que você possa mirar o infinito e fazer com que, usando as cores e pincéis que lhe foram confiados, seja o artífice da nova era e pinte o mundo de acordo com a sua cor, para que a travessia seja mais excitante e a paisagem mais bela; que você possa sentir o amor em toda sua plenitude, abrir os braços e ir ao encontro das boas coisas da vida; que você possa sentir o milagre da vida, tão belo quanto curto, que deveria ser cultivado como as flores mais raras; que você possa pedir colo a Deus e nessa efusão de abraços afetuosos, sentir a grandiosidade do espírito humano, vocacionado para o infinito e a eternidade; que você possa fazer da pena o estilete a penetrar interiores e pinçar, lá no fundo, os fantasmas que habitam os porões da alma humana, devassá-los e cegá-los com a luz da verdade; que você possa carregar neste corpo nanico o gigante sonho que acalenta em sua alma e realizar o sucesso pluralista de suas aspirações; que você possa fazer da solidariedade sua bandeira para desinchar o egoísmo que consome as pessoas e reverter em dividendos de bonança e a mais perfeita sintonia fina nos elevados projetos humanitários; que você possa buscar o sucesso que é merecedor, pelo seu talento e, a cada virada de página, receba os aplausos com a franciscana humildade; que você possa, enfim, vencer todas as dificuldades enfrentando-as com a afiada espada do Anjo Exterminador que, com toda certeza, é seu protetor contra as hostes inimigas.
Desejos natalinos brotam do fundo do coração. Assim, desfrute momentos maravilhosos junto àqueles que lhe são caros. Se faltar alguém, eleja a prece como mensageira para que encaminhe ao destinatário todo sentimento de paz e do mais puro afeto.

*Eudes Quintino de Oliveira Júnior é promotor de Justiça aposentado, mestre em Direito Público, pós-doutorado em Ciências da Saúde. Advogado e reitor da Unorp.

(In Migalhas)

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