No passado, um hotel chamado São Paulo
Foto - Acervo
porAlberto Isaac
23/09/2022 00:45
Ele desapareceu. Deixou de figurar entre os estabelecimentos que abrigaram, não só pessoas simples, humildes, como também personalidades do porte de um Armando Sales de Oliveira, Adhemar de Barros, juízes, promotores e artistas de renome como Orlando Silva, Carlos Galhardo, Sargentelli e suas mulatas, Demônios da Garoa, além de esportistas e, principalmente, viajantes. Não foi tão sofisticado como o Copacabana Palace. Tampouco igual ao Hotel de Bourgne, da Itália ou o Hotel de Ville de Paris, o Imperial de Tóquio… Era modesto, mas de grande alma, onde, com muita alegria, alugavam-se quartos ou apartamentos, com substanciais refeições. O sempre lembrado Hotel São Paulo, que deixou de funcionar há décadas, mas que foi referência da Itapetininga de antanho é sempre recordado com imensa saudade.
Onde hoje funciona a agência do Banco do Brasil, erguia-se o prédio de várias janelas, dois pavimentos e que se estendia da rua Júlio Prestes até a confluência da Saldanha Marinho, o então Hotel São Paulo, uma homenagem ao Estado que acolheu o seu fundador, o português Agostinho Leandro Ferreira Jardim. Esse, provindo da llha da Madeira, Funchal, aportou em Boituva e, após se casar com “uma linda morena de olhos verdes”, Etelvina, instalou o primeiro hotel naquela cidade. Em Itapetininga, chegou com a esposa, esperançoso com a nova localidade que adotou como “pátria e cidade mãe”, pretendendo continuar no ramo hoteleiro. Isto em 1925.
Na mesma Saldanha Marinho onde, atualmente, existe o Hotel Itapetininga, Agostinho abriu o “Hotel Roma”, adquirido, posteriormente, por Saladino de Almeida e, depois, por Armando Rindi, genro de Saladino e cunhado de Ari (Codorna) de Almeida. Foram aproximadamente quinze anos nessa atividade, transferindo a responsabilidade do hotel para um de seus filhos: Antero, que foi casado com Alice Rolim Leandro. Por pouco tempo permaneceram com o estabelecimento, passando a firma para Romeu Pandolto, – na época, um garçom do próprio “São Paulo”. O “doce e agradável italiano da melódica Roma”, como sempre gostava de proclamar o saudoso professor Belizandro Barbosa, transformou o estabelecimento num verdadeiro prolongamento do lar de cada um que lá se instalasse. Não havia diferenciação alguma entre viajantes que faziam de Itapetininga o local central para as incursões que realizavam em cidades vizinhas vendendo seus produtos, estudantes, funcionários que trabalhavam na cidade e outros, optando em viver como se estivessem em sua própria residência.
Atencioso e gentil para com todos, servindo com carinho e chamando os mais novos de “filhos”, Romeu Pandolfo e sua esposa, Dona Madalena, ofereciam as melhores refeições, preparadas com produtos de alta qualidade e, inclusive, provando antes a alimentação que seria servida, tanto no almoço como no jantar. Sem se importar coma condição financeira do hóspede, Romeu fazia questão absoluta de proporcionar atendimento dos mais perfeitos. “Seu hotel assemelhava-se a um lar onde o pai zelava pelos filhos”, lembra José Pires, Germano, aposentado como inspetor da companhia Gessy Lever e um hóspede constante do São Paulo.
Quase todos os eventos importantes realizavam-se naquele estabelecimento: reuniões semanais ordinárias ou festivas tanto do Rotary como do Lions, jantares comemorativos de formaturas ou destinados a políticos, almoços de confraternizações e seminários de palestras. Destacava-se, no entanto, as célebres homenagens ao “Dia do Viajante”, levadas a efeito, anualmente, em cada primeiro de outubro. Tornava-se uma data especial para o proprietário do hotel, tal o alvoroço que provocava. O cardápio, um dos mais suculentos, era servido gratuitamente a todos os hóspedes, além dos convidados como juízes, delegados de polícia, autoridades de ensino e, notadamente, os amigos de Romeu como Abrahão Isaac (encarregado dos convites), Belizandro Barbosa, Daher Charnie, Calil Yared e o jornalista Galvão Júnior.
De coração extremamente ente bondoso e sensível aos dramas dos necessitados, Romeu oferecia aos carentes “pratos de comida”, todos os dias, após o almoço. Todos aguardavam, em fila, no portão existente na rua Saldanha Marinho, o alimento que os fortalecia para a vida. Na época, além do Hotel São Paulo, funcionavam o ltapetininga Hotel, Hotel Central e as denominadas pensões como a “de seu Batistinha”, na Silva Jardim, a da Matriz, a Paca, no Largo do Rosário a Santa Terezinha, no Largo dos Amores, a São João, na Alfredo Maia, a Santo Antônio, próxima à Santa Casa e a Pensão do Florentino, na rua Quintino Bocaiúva.
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