Carnaval não é mais como era ontem.
E nem podemos lembrar desse Carnaval de ontem, sem recordar Carmen Miranda, a portuguesinha mais brasileira que o Brasil conheceu.
Com seu sorriso, ela eletrizava plateias inteiras.
Pode ser que hoje existam baianas ruidosas tocando pela altura do seu joelho, mas estas jamais serão como ela.
No seu rebolado, não havia conotação ou desbloqueio da sensualidade estimulando o prazer sexual; ela trazia simplesmente o prazer da música e da dança para o seu público.
Maria do Carmo nasceu em 1909, na Vila de Marco de Canaveses, em Portugal; era filha do barbeiro José Maria Pinto da Cunha e de Maria Emília Miranda da Cunha.
Quem lhe deu o apelido "Carmen" foi um tio; e pegou.
No mesmo ano em que ela nasceu, o pai emigrou para o Brasil, sozinho. Quando se tornou sócio de uma barbearia no Rio de Janeiro, aí, sim, mandou buscar toda a família.
Aos cinco anos, durante uma festa em família, a menina cantou um fado.
Matriculada num colégio de freiras para estudar, a menina até pensou em tornar-se uma, porém, o pai a fez desistir da ideia. Uma vez fora do colégio, Carmen foi procurar trabalho para ajudar a família que agora abrira uma pensão.
Empregou-se numa chapelaria, como balconista, mas foi tornando-se conhecida por seus dotes de dançarina e cantora. Através de um político baiano, freguês assíduo da pensão, ela aceitou apresentar-se no Instituto Nacional de Música e, após mostrar suas aptidões artísticas, foi contratada por Josué de Barros e passou a ter fama; em seu repertório desde tangos de Carlos Gardel, muito na moda, e até toadas sertanejas.
Logo vieram as primeiras gravações: "Não Vá S`Imbora", "Se o Samba é Moda", "Triste Jandaia", "Dona Balbina".
Ao ouvi-la, o compositor Joubert de Carvalho ficou fascinado:
- " É como se eu a estivesse vendo, em vez de ouvindo! Parece que ela está dentro da vitrola!"
E então ele compôs "TAÍ" para que ela gravasse.
E Carmen Miranda se tornou a cantora "brasileira" mais popular de todos os tempos.
E quando ela interpretou "O QUE É QUE A BAIANA TEM", do compositor Dorival Caymmi, caracterizando-se de baiana, o Brasil explodiu de amor por ela.
Foi nesse mesmo dia 15 de fevereiro de 1939, quando ela tomou parte do show no Cassino da Urca, acompanhada pelo Bando da Lua, que um estrangeiro a raptou para o mundo.
Toda Hollywood foi ver a artista no espetáculo de Schubert, "Streets of Paris", na Broadway.
Um mês depois, sua foto ocupava uma página inteira da revista "LIFE".
Daí, o primeiro filme: "Serenata Tropical".
As lojas de departamentos de Nova Yorque começaram a comercializar turbantes iguais aos dela, sapatos altíssimos como os que ela usava (ela era baixinha), colares e balangandãs como os que ela usava.
Em 1940, ela voltou ao Brasil, mas foi hostilizada por ter-se "americanizado".
Teve que reconquistar os corações brasileiros.
Gravou " Voltei Pro Morro" e "Disseram Que Voltei Americanizada".
Vieram os filmes: "Uma Moite no Rio", "Aconteceu em Havana", "Minha Secretária Brasileira".
Casou-se em 1947 com o produtor americano David Sebastian e seis anos depois teve um colapso nervoso, gerado pelo ritmo frenético em que vivia, constantemente em shows, em gravações, em filmes, em programas de rádio e televisão, em excursões pelo mundo.
Foram quatorze anos de trabalho, ininterruptos.
No dia 4 de agosto de 1955, ela sentiu-se mal durante a filmagem de um show televisivo: teve falta de ar; ainda dançou um mambo, caindo, afinal, de joelhos. Nessa mesma noite, reunida com um grupo de amigos, em casa, chegou a imitar vários artistas, inclusive Amália Rodrigues.
No dia 5, de manhã, o marido encontrou-a caída no chão fora do quarto, morta: tivera um ataque cardíaco fulminante.
Seu corpo foi transportado para o Rio de Janeiro.
No seu velório, achava-se o compositor Ary Barroso, autor da maior parte das músicas gravadas por ela no Brasil, o qual confidenciou ao jornalista Ary Vasconcelos suas considerações acerca do mito que partia naquele momento:
- " Quando a vi pela primeira vez, fiquei logo convencido de que estava diante de uma futura estrela. Teria sido por tê-la achado uma grande cantora? Não, porque ela não possuía nenhuma voz extraordinária. Seria, por acaso, bonita? Não acho. Seu corpo não era de chamar a atenção. Era o todo; havia algo de magnético nela que a tornava a maior cantora popular do mundo latino".
Foi ao som de "TAÍ", cantada por mais de meio milhão de pessoas, que o corpo de Carmen Miranda baixou à sepultura, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, no Rio de Janeiro.
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