Quando eu morrer, não soltem meu cavalo
nas pedras do meu pasto incendiado:
fustiguem-lhe seu dorso alardeado,
com a espora de ouro, até matá-lo.
Um dos meus filhos deve cavalgá-lo
numa sela de couro esverdeado,
que arraste pelo chão pedroso e pardo
chapas de cobre, sinos e badalos.
Assim, com o raio e o cobre percutido,
tropel de cascos, sangue do castanho,
talvez se finja o som de ouro fundido
que, em vão – sangue insensato e vagabundo —
tentei forjar, no meu cantar estranho,
à tez da minha fera e ao sol do mundo!
Ariano Suassuna
*João Pessoa: 16 de junho de 1927
+ Recife: 23 de julho de 2014
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