quarta-feira, 25 de setembro de 2019

CONVERSA COM UM SOBRINHO QUE VI NASCER



Com menos da sua idade, sobrinho, fui embora para São Paulo devido a um problema que tive com meu pai, seu avô.
Jamais me arrependi desse passo. 
Primeiramente morando com uma tia; depois, tão logo ultrapassando a experiência de trabalho no Banco Mercantil, disse adeus a ela e fui morar em pensão.
Algumas das pensões tinham lá suas dezenas de meninas, cada qual com seus problemas muito maiores do que os meus. 
Fui muito feliz fora daqui. 
Fora daqui tive meu primeiro relacionamento amoroso, depois outros e outros, até culminar com o nascimento do meu único filho.
Fora daqui fiz amigos; ainda hoje, cultivo alguns deles.
Fora daqui trabalhei em vários lugares, principalmente em agências bancárias e imobiliárias. 
Fora daqui conheci amigos nas noitadas, frequentei salões de dança, travei conhecimento com a Lílian Gonçalves, uns amigos atores no início da carreira, o Aldo que fez Doramundo, cantores, Léo Canhoto, Rolando Boldrin, vagamente o teatrólogo Plínio Marcos até o pugilista Éder Jofre, etc, etc. 
De analista de crédito no Mappim a Gerente administrativo na Digimóvel, no Itaim Bibi.
Morei em Santo Amaro, lá no Parque Santo Antonio, fim do mundo, para só mais tarde residir em Pinheiros, pertinho do Largo da Batata já com meu filho.
Trabalhava semana inteira, às vezes até em domingo, mas quando isso não acontecia, cá estava eu fazendo festa na casa da mamãe Maria Olímpia, sua avó. 
Voltei após mais de duas décadas e me aposentei depois.
Também não me arrependo por ter voltado porque, afinal de contas este chão é nosso, foi construído e foi pisado milhões de vezes pelos nossos ancestrais e aqui está a possibilidade de reconstruirmos nosso espírito, acalentarmos nossos sonhos e ampliarmos nossos conhecimentos sobre a vida.
Se acontecer realmente, seja bem-vindo, sobrinho! 
Quem sabe você não estará renascendo?


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