
No livro do pracinha Victório Nalesso, "Diário de Um Combatente", publicado em 2005, se você ainda não leu, não sabe que ali está impresso um pedacinho da história vivido na Segunda Guerra Mundial, pelo pracinha são-miguelense JOSÉ EXPEDITO MACHADO, o BEM, contada pelo mesmo Victório, e pelo que a gente agradece.
DIZ ELE NAS PÁGINAS 103/104:
"Eu não esqueço uma passagem que aconteceu comigo e meu companheiro que portava a metralhadora ponto 50.
Eram 14 horas; partes da cidade muito destruída, mas tinha casas que nada sofreram. E nós dois resolvemos subir em um telhado com três andares e assentamos a peça de metralhadora no último andar, o 3o. andar.
Este companheiro, eu tenho o prazer de registrar seu nome: Soldado Expedito Machado, natural de São Miguel Arcanjo/S.Paulo. Homem de pequena estatura e franzino, mas muito forte e corajoso.
Essa casa fazia parte de uma grande avenida, longa e larga. Dava mais ou menos uns 1.000 metros de comprimento por 60 de largura e tinha a cada 100 metros um chafariz com 4 estátuas cada.
Estátuas de crianças.
De cada estátua jorrava água potável pelo pênis.
Nestas alturas, acabamos de tomar a refeição da escartoleta K e ficamos observando se enxergávamos algum movimento inimigo.
Olha só o que aconteceu: os alemães nos avistaram primeiro.
Achavam-se tão próximos que deram um tiro direto, devia ser canhão anti-tanque, porque escutamos um estampido muito forte que atingiu o prédio.
A sorte nossa foi que a explosão foi bem por baixo, o 3o.andar ficou intacto e suspenso pelas ferragens.
O que fizemos: soltamos a metralhadora para baixo, assim como a caixa com munições e como não havia escada, porque a mesma desapareceu com a explosão, descemos escorregando pelos trilhos.
Fomos procurar outro lugar para o assentamento da mesma à espera de um contra-ataque inimigo na passagem da noite, coisa que não aconteceu.
O que muito nos perturbou foram os alemães mortos, bem próximos da nossa trincheira: quatro corpos achavam-se bem à nossa frente, distanciados uns dos outros, mas havia muitos mais e nós não estávamos à busca de mortos e sim de vivos.
O que aconteceu é que esses corpos começaram a exalar um forte odor na calada da noite, cada vez mais insuportável, e a gente vendo aqueles enormes cadáveres.
Um de bruço, outro de costas, outro meio pranchado, até que poderíamos arrastar esses corpos para buracos de bombas, com tantos buracos que haviam a nosso redor, mas isso não fizemos porque temíamos que algum desses corpos estivesse minado.
E esse serviço era só com a equipe especializada: os caça-minas que portavam aparelhos próprios, analisavam e então liberavam para a Cruz Vermelha ou equipe de sepultamento".
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