Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.
Assunto: Carta aberta ao Secretário de Educação do Estado de São Paulo.
Sorocaba, 19 de agosto de 2020.
Ao senhor, Rossieli Soares
Secretário de Educação do Estado de São Paulo.
Senhor Secretário de Educação do Estado de São Paulo, nós Professores coordenadores pedagógicos, da Diretoria de Ensino de Sorocaba, queremos, por meio desta, expressar os nossos sentimentos diante de tudo que estamos passando, ora em tele-trabalho e já de outros tempos, devido a quantidade de afazeres, muito além do que seria normal para um ser humano. Tudo piorou com a chegada da pandemia, em que fomos colocados diante de uma realidade absurda de responsabilidades e horas de trabalho exaustivos que nos consomem como profissionais e como pessoas que, por incrível que pareça, ainda somos! Mas, isso parece ter sido esquecido por nossos superiores mediatos e imediatos, já que a cada dia, mais e mais demandas caem em nossas mãos e nem somos capazes de dizer não, pois junto com elas, vem a responsabilidade de educador, pais, mães, irmãos que nos tornamos dos nossos alunos, tão ‘fragilizados’ e vítimas, assim como nós desse sistema em que fazemos parte. Até agora, trabalhamos quietos, dedicando de corpo e alma para que tudo não saia do controle, mas a carga ficou pesada demais e sentimos a necessidade de gritar por socorro. Pensamos, por vezes, que vivemos em mundos diferentes, pois os “pacotes” pedagógicos que são disparados daí de cima, demonstram que seus autores desconhecem o chão da escola. Estamos sufocados, estressados, desanimados e revoltados diante de tanto desrespeito. Não só nós, mas todos que construímos a realidade da educação nos ambientes escolares. Por vezes, retomamos a esperança na fala do senhor, quando fala de desburocratização, porém o que vemos é o contrário, mais e mais cobranças sem sentido e burocracia por toda parte. Por isso, perguntamos, será que o senhor não se esquece de informar tais decisões à sua hierarquia?
A gota que faltava veio com esse Plano de Recuperação e Aprofundamento, revelado essa semana pela Diretoria de Ensino. Sentimo-nos traídos até por sua pessoa que em meados de abril falou que nos chamaria para conversarmos e construir juntos um plano e até hoje não o fez, talvez também pelo excesso de trabalho. Encheu-nos de angústia e decepção ao lembrar que o senhor bateu no peito ao dizer aos quatro cantos nas mídias que iria investir fortemente na recuperação e reforço, quando voltássemos no presencial, e agora, nos apresenta um plano pronto, complexo e sem nenhum sentido para o momento em que vivemos. Sem auxílio de professores de apoio, mas pelo contrário, oferecendo a função de professor voluntário no apoio à coordenação. Nos desculpe, mas isso é surreal. O que assistimos agora, mais parece um devaneio de quem perdeu a noção da realidade. E o professor, irá fazer jornada dupla de aulas presenciais e online, no modelo híbrido? Com cinco computadores na escola, por vezes até sem computador em casa? Com sete ATPCs e com um coordenador que não terá tempo de apoiá-lo, porque também terá 21 horas de ATPCs para elaborar e aplicar, mais quatro reuniões coma DE, Gestão, PCNP e pais. Será que daremos conta?? Já estamos no terceiro bimestre letivo e ainda não conseguimos atingir a maior parte dos alunos que não fazem as atividades porque não podem, porque não tem internet, porque não tem computador, porque não tem celular ou porque, simplesmente não quer fazer. Nós dormimos e acordamos pensando neles, nas tarefas que não conseguimos terminar, ou no pai que chorou porque nem tem o que comer em casa, e nós, cobrando as atividades que o filho não fez, porque não tem recurso para realizá-las. Cuidamos do professor que também está estafado, à beira de surtar por tantas cobranças e decepção pela não correspondência do aluno ou pelos desaforos dos pais. Cuidamos dos alunos, cuidamos da escola, cuidamos do pátio, do portão, da fila, cuidamos, cuidamos ... E quem cuida de nós? Não tem sentido para a escola essa recuperação agora, quando estamos até implorando para que os alunos façam as atividades, para que possamos fechar esse ano letivo. Recuperar o quê, se não aprendemos nada? Será a fala dos alunos, com certeza. Desculpe-nos mais uma vez, mas não é hora de inventar nada, mas sim tentar fechar o que se abriu e curar as feridas. Para terminar, gostaríamos de falar da semana de recesso que vem aí, de 24 a 28 de agosto. Ótima ideia, pois já estamos a quase dois bimestres sem parada, sobrevivendo um dia de cada vez. Mas que legal! Já ficamos sabendo que o descanso será somente para os alunos e professores. E nós? Não cansamos, não temos família, não temos vida? Assim como os professores, estamos com a cabeça, a agenda e o coração cheios! Precisamos respirar para mantermos vivos até o final do ano.
Com todo respeito senhor secretário, não se esqueça que somos gente, assim como diz Paulo Freire: “Escola é sobretudo, gente!”
Do facebook.
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