quarta-feira, 2 de novembro de 2022

TRECHO DE " UM DEFEITO DE COR"

A captura 

Em uma mistura de iorubá e achanti, uma das mulheres perguntou se estávamos sozinhas, eu respondi que sim, e que morávamos em Uidá mesmo. 
Ela então quis saber se tínhamos família e eu contei sobre a minha avó. Quando soube que éramos apenas nós três, ela disse que era melhor assim, pois deixaríamos uma só pessoa chorando por nós, confirmando que seríamos mandadas para o estrangeiro, que muitos deles já estavam ali havia vários dias, como ela, esperando para embarcar. 
Todos os dias chegava mais gente capturada em muitos lugares da África, falando línguas diferentes e dando várias versões sobre o nosso destino. 
Perguntei onde ficava o estrangeiro e ela não sabia, mas outra mulher que estava por perto disse que era em Meca. Ela e alguns outros que nos mostrou, dizendo serem muçurumins, estavam todos indo para Meca, e deveríamos nos alegrar por Meca ser uma terra sagrada e feliz, para onde todos tinham que ir pelo menos uma vez na vida, cumprindo as obrigações com Alá. 
Como eu não sabia quem era Alá, ela disse que é o todo-poderoso, o que tudo vê, o que tudo pode, o que tudo sabe, o que nunca se engana. 
A muçurumim se chamava Aja e estava acompanhada da irmã, Jamila, e do Issa, marido das duas, que estava no meio dos homens. Eles pareciam felizes e tinham chegado ao forte no dia anterior. 
A Tanisha, a mulher com quem eu tinha conversado primeiro, disse que não, que havia um grande engano, que tinha sido aprisionada junto com o marido e o filho, e estávamos todos sendo levados para o estrangeiro, que até poderia ser Meca, pois não sabia onde ficava, mas era para virarmos carneiros dos brancos, pois eles gostavam da nossa carne e iam nos sacrificar.

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