sexta-feira, 1 de março de 2019

CONFORMES DO REINALDO AZEVEDO:

Por: Reinaldo Azevedo


Bolsonaro e o vice, Hamilton Mourão, posam com jornalistas: bate-papo sobre vários temos, incluindo a Previdência. 

Alguém aí falou em esquerdas? Não, né? Elas estão quietas. Quem não se ocupa de Lula, ocupa-se de Maduro. Quem não se ocupa de Maduro e Lula, está de olho no caso Marielle. Tudo muito justo. Só estou ressaltando que as resistências à reforma da Previdência vêm da base real ou potencial do próprio Bolsonaro. A mobilização do povo sem rosto ainda não começou. Por enquanto, os descontentes que fazem chegar a sua contrariedade com a reforma da Previdência são os que compõem a elite do funcionalismo público e os eleitores de Jair Bolsonaro. Não adianta o presidente pôr seu filho do meio, o sempre agressivo — no texto ao menos — Carrrluxo, para defender a reforma. Como escrevi aqui numa série de posts, terá de ser ele próprio, Bolsonaro, a dizer o que passou a querer para a Previdência. E será preciso pedir desculpas contundentes por tudo o que afirmou sobre o tema há menos de um ano. Carrrluxo ensaiou uma defesa da reforma e foi fustigado pela base do papai. A razão é simples: muitos votaram no “Mito” para que ele caçasse gays, não para que cassasse aposentarias aos 50. A primeira coisa lhes parecia justa porque, afinal, não são gays. Já a segunda, não. Eles queriam se aposentar aos 50 num mundo sem gays.

Por: Reinaldo Azevedo

Paulo Guedes, ministro da Economia: está mais preocupado agora do que antes.

Paulo Guedes (foto), ministro da Economia, apegou-se a um número bom, mas mágico, e o aparato que sustenta o tal número também na estratosfera: a reforma da Previdência tem de economizar ao menos R$ 1 trilhão em dez anos. E aí, diz ele, cada concessão que o governo fizer — leia-se: presidente Jair Bolsonaro — tem de ter uma compensação. Se vocês me perguntarem “Compensação em que área, Reinaldo?”, eu não saberei responder. E isso não é pecado. Afinal, eu não sou governo. Mas o ministro também não saberia o que dizer, e isso é coisa séria, já que ele é, sim, governo. Publiquei, no dia 26 de fevereiro, neste blog, uma série de sete posts que traziam no título um convite: “Comece a governar, Bolsonaro”. A síntese dos ditos-cujos poderia ser esta: o presidente se empenha pouco em defesa da reforma. Em um deles, escrevi: “E que se faça aqui um registro até tragicômico: os economistas e a imprensa se mostram muito mais entusiasmados com o texto [da Previdência] do que o próprio presidente.” Em outro: “Quanto menos o presidente se empenhar pessoalmente na reforma, menos próximo o texto fica da economia pretendida.”

Por: Reinaldo Azevedo


Na conversa que manteve com jornalistas, deu para perceber que Bolsonaro está disposto a quebrar algumas lanças em defesa da reforma, mas não muitas. Já deu piscadelas, cedendo em relação à idade mínima de aposentadoria para mulheres. Poderia baixar de 62 para 60. Também deve recuar na questão do valor do BPC, o Benefício de Prestação Continuada. A imprensa faz contas em favor do governo, o que os bolsonaristas tontos não reconhecem. A alteração que Paulo Guedes quer fazer representaria uma economia de R$ 27,5 bilhões em 10 anos. Quem sabe lidar com grandezas percebe ser isso uma merreca em uma década quando confrontado com o desgaste político de reduzir o pagamento a velhos miseráveis. Se era bode na sala, é burrice. Porque o bode é retirado, mas o cheiro fica. E ouso dizer, com base no que vi na reforma proposta pelo presidente Michel Temer, com negociadores profissionais no Congresso — são alunos de escolas de circo: isso é só o começo. Vem muito mais recuo por aí.

Por: Reinaldo Azevedo


E aí aconteceu o quê diante da piscada de Bolsonaro? A Bolsa caiu 1,77%. Não só por isso, mas também por isso. Não foi por falta de advertência deste humilde jornalista. E até antevejo: se resolver cair a cada recuo do governo, vai para o patamar de 50 mil pontos em vez de furar a barreira dos 100 mil. Eu hesito um pouco em chamar isso de especulação porque tal fala estaria a indicar que sou otimista. Acho que realmente é coisa pior. Parece-me que a brava moçada que opera esses assuntos acreditou que a política havia morrido e que bastaria um demiurgo meio bronco dar uns murros na mesa, e as coisas entrariam no eixo. Enquanto o Brasil for uma democracia — alguém tem alguma ideia melhor? —, a reforma da Previdência terá de passar pelo Congresso, e o Congresso terá de passar pelo povo. Como Bolsonaro passou. E sem tocar na reforma da Previdência. Esse era um assunto de que Paulo Guedes, que não disputa eleições, tratava com os tais agentes de mercado, que fingiam ignorar que o povo existe.

Por: Reinaldo Azevedo


Casa do Vale do Jequitinhonha: se eles conhecerem capitalismo, certamente vão gostar.
Ora, não me subestimem! Eu sou favorável à reforma da Previdência desde FHC. Mas eu também não disputo voto. Ademais, na questão pessoal, ela me é irrelevante. Gosto de pensar que isso nada tem a ver com a minha opinião. Mas essa também pode ser uma visão idealizada que tenho de mim mesmo. Reformas afetam vidas reais, de pessoas reais, que vivem no mundo real. Se eu fosse um chefão do mercado financeiro — tadinho: sou apenas jornalista —, em vez de deixar aquela meninada umas 18 horas por dia ligada em cotações disse e daquilo, obrigaria a todos a fazer um curso de história do Brasil. Ou, então, a ter aulas sobre o equilíbrio entre os Poderes da República. Ou, então, a visitar o Vale do Jequitinhonha e o Vale do Ribeira… 
Quem voltasse comunista de lá seria sumariamente demitido. Quem começasse a ter ideias para fazer o capitalismo chegar a esses Brasis também reais iria ganhar um prêmio de Educação Moral e Cívica e ainda ficaria rico.
Nem precisaria dizer, no Hino Nacional, qual é o sujeito em “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heroico o brado retumbante” ou de explicar, no da Independência, a sintaxe de “Os grilhões que nos forjavam da perfídia astuto ardil”.
Faço o convite para esse “embrenhamento” porque a próxima etapa do enfrentamento será o debate sobre a aposentaria rural. 
Não vale chamar o pobretão do campo de preguiçoso. 
Só vamos cobrar deles que recitem trechos de “As Seis Lições”, de Ludwig Von Mises, quando “boia fria” for só resquício, que sobrou na linguagem, por metonímia, de um tempo de iniquidades já superado.

Em tempo 1: o sujeito é “as marges plácidas do Ipiranga”.

Em tempo 2: Não há explicação sintática possível para “os grilhões que nos forjavam da perfídia astuto ardil”.

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