Moro, ex-juiz de acusação, quer ser agora juiz de condenação da imprensa.
Reinaldo Azevedo 05/08/2019
O ministro Sergio Moro (foto), da Justiça, agora resolveu seguir os passos do presidente Jair Bolsonaro e atacar a imprensa dia sim, dia também. Não toda ela, claro! Só aquela que se encarrega de lembrar o que ele fez no verão passado — procedimento, diga-se, a que são submetidos todos os políticos.
Sabem como é… Os candidatos a tiranos e tiranetes não gostam.
Já afirmei no programa "O É da Coisa", na BandNews FM, o que vou escrever agora: Bolsonaro não tem legitimidade para atacar a imprensa porque, na democracia, ninguém tem. E que se note: "atacar" é diferente de criticar uma reportagem, apontar erros, evidenciar omissões. Isso é do jogo.
O presidente alveja a própria atividade. Ele detesta o fato de que seus atos são submetidos ao escrutínio diário do jornalismo. Ou por outra: repudia a própria democracia.
Não tem legitimidade, reitero, para atacar, mas dá para entender por que o faz.
A imprensa, de fato, sempre lhe dispensou um tratamento negativo. Não por prevenção, mas por senso de justiça.
Ele passou 28 anos na Câmara a dizer as coisas mais detestáveis e absurdas. O simples registro de sua fala sempre correspondeu a uma abordagem depreciativa. Por responsabilidade exclusiva de quem emitia os juízos boçais.
De todo modo, a imprensa não participou da "invenção" de Bolsonaro. Mas participou, sim, da criação de um outro mito: Sergio Moro.
Bolsonaro se fez sem a ajuda do jornalismo — ao menos a voluntária.
Registro, pois, à margem que dar publicidade a suas estultices, ainda que de modo crítico, correspondia também a ampliar o seu público. Temos, no entanto, a obrigação de noticiar. Ponto.
Moro só colheu louros desde que foi deflagrada a Lava Jato, há mais de cinco anos. Seus atos ilegais e seus exotismos judiciais eram vistos como um modo célere e inteligente de combater a impunidade. De resto, cumpre lembrar a rotina de vazamentos criminosos que acompanhou a operação desde o início. E estavam criadas as condições para animar a mentalidade dos tolos com a ideia de um Super-Homem contra a corrupção.
Até hoje, há setores renitentes da imprensa que se negam a reconhecer a contumácia com que o doutor agrediu fundamentos da Constituição e do Código de Processo Penal, além de uma penca de outros títulos legais.
Portanto, seu ataque à imprensa, além de ilegítimo, como o do seu chefe, é também ingrato...
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