Fazendeiro diz que usou suástica como símbolo antigo de "felicidade".
José Eugênio Adjuto foi indiciado pela Polícia Civil; a casa e a fazenda dele foram alvos de buscas, mas não foram encontrados objetos nazistas.
Clara Mariz*, Lucas Pavanelli e Pablo Nascimento, Do R7.
Foto tirada em bar mostra o fazendeiro com a suástica nazista no braço. Reprodução / Redes sociais.
O fazendeiro José Eugênio Adjuto, visto com uma suástica no braço em um bar de Unai, a 539 km de Belo Horizonte, alegou à polícia que utilizou a cruz como um símbolo religioso antigo de “felicidade” e não em alusão ao nazismo. Mesmo assim, ele foi indiciado pela Polícia Civil nesta quarta-feira (18) por incitação à discriminação racial.
O caso aconteceu no último sábado (14) e provocou indignação entre alguns frequentadores do estabelecimento. A Polícia Militar não viu apologia ao nazismo.
A casa e a fazenda de Adjuto foram alvos de mandado de busca e apreensão nesta terça-feira (17).
De acordo com o delegado Douglas Magela, não foi encontrado nenhum objeto ou livro que faça referência ao nazismo nesses dois locais.
O fazendeiro não foi encontrado no momento da operação mas, de acordo com o delegado, ele se apresentou espontaneamente na delegacia, acompanhado de um advogado e entregou o celular para perícia.
No local, ele disse ao delegado que está com depressão devido à morte recente de sua mãe. Ele também afirmou que usou a suástica em seu significado primário, que seria de "alegria, felicidade e bem-estar".
A palavra "suástica" vem do sânscrito, uma das línguas oficiais da Índia e teria esses como alguns um de seus significados. Mas o símbolo se tornou conhecido em todo o mundo ao ser adotado pela Alemanha nazista.
O delegado Douglas Magela também disse que o fazendeiro relatou que ele mesmo confeccionou o material, em casa. O celular de Adjuto foi periciado e, ainda segundo o delegado, não foram encontradas fotos, postagens nazistas ou racistas, somente uma pesquisa sobre a palavra "suástica".
Delegado Douglas (esq.) indiciou fazendeiro. Divulgação/PCMG
Indiciamento
Mesmo Adjuto alegando que não tinha intenção de fazer apologia ao regime nazista, delegado Magela explica que o fazendeiro tinha plena consciência sobre todos os significados que o símbolo carrega.
Por isto, o suspeito foi indicado por incitação à discriminação racial. A decisão foi feita com base no artigo 20 da Lei nº 7.716, de 1989, que é a lei do Crime Racial. O texto diz que é proibido fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. A pena é de dois a cinco anos de prisão.
Ainda segundo os investigadores, não foi necessária a prisão de Adjunto. Inquérito será encaminhado à Justiça nesta quinta-feira (19).
PM não viu racismo
O boletim de ocorrência do caso só foi registrado no domingo (15), após a história ganhar repercussão nas redes sociais. Segundo a PM, os militares que atenderam o chamado alegaram que não entenderam que o ato se enquadraria dentro do que prevê a lei que criminaliza a apologia ao nazismo.
Um vídeo gravado por clientes do bar mostram que os policiais saíram do local sem falar com Adjuto. Os oficiais se limitam à pedir ao gerente que solicitasse ao fazendeiro para retirar a braçadeira.
Um processo foi aberto na corregedoria da PM para apurar a postura dos militares. O Ministério Público de Minas Gerais informou que também acompanha a situação.
*estagiária do R7, sob supervisão de Lucas Pavanelli
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