sexta-feira, 28 de agosto de 2020

PASTORZINHO DO BOZO PEGO COM A BOCA NA BOTIJA

Pastor Everaldo é preso em operação que afastou Witzel do governo de RJ.

Candidato à presidência em 2014, pastor é um dos alvos da Operação Tris in Idem, que apura corrupção na Saúde do estado.
Por Bette Lucchese, Arthur Guimarães, Leslie Leitão e Marco Antônio Martins, G1 Rio e TV Globo
28/08/2020 


Pastor Everaldo Dias Pereira Presidente do Partido PSC foi preso na manhã desta sexta-feira (28/08), em operação Placebo da Policia Federal, no Rio de Janeiro. 
O STJ afastou do cargo o Governador Wilson Witzel, por irregularidades na Secretaria de Saude no estado. 28/08/2020 - Foto: — Foto: Adriano Ishibashi/Framephoto/Estadão Conteúdo

Pastor Everaldo é levado para a sede da Polícia Federal.
O Pastor Everaldo Pereira, presidente nacional do PSC, foi preso na manhã desta sexta-feira (28) na Operação Tris in Idem, que também determinou o afastamento do cargo do governador Wilson Witzel (PSC-RJ).
Policiais federais e uma procuradora chegaram por volta de 6h da manhã ao apartamento do político, no bairro do Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio. Em um carro da PF, o pastor saiu de lá por volta das 7h45.
Às 8h25, ele chegou na sede da Polícia Federal no Rio, na Praça Mauá.
Pastor Everaldo foi citado na delação premiada do ex-secretário de saúde, Edmar Santos, por conta da influência dele no Palácio Guanabara. O ex-secretário foi preso por corrupção. Segundo a delação, era o pastor Everaldo quem mandava na saúde.
Segundo acordo homologado pelo ministro Benedito Gonçalves, as declarações prestadas por Edmar "indicam que um dia antes da deflagração da Operação Placebo o Governador repassou R$ 15 mil em espécie ao Pastor Everaldo, o qual mostrou a quantia a Edmar, com receio, em tese, de que a Polícia Federal encontrasse os valores na realização das buscas."
"Trata-se de provável tentativa de esconder valores supostamente ilícitos, angariados em espécie (prática usual utilizada por grupos criminosos para evitar o rastreamento do dinheiro)."
Segundo o ministro Benedito Gonçalves, Everaldo faria parte de uma organização criminosa "com o objetivo comum de desviar recursos públicos e realizar a lavagem de capitais, dentre outros crimes".


Pastor Everaldo é preso
Além de presidente nacional do PSC, partido do governador Wilson Witzel, desde 2015, o pastor Everaldo também já foi chefe da Casa Civil de Antonhy Garotinho.
Em 2014, foi candidato à Presidência da República sem nunca ter ocupado um cargo político. Na época, ele era pastor da igreja Assembléia de Deus do Ministério Madureira. Ele também já foi deputado federal e candidato ao Senado Federal.
Três anos depois da candidatura à presidência, em 2017, Everaldo foi citado na delação de um executivo da Odebrecht. Na época, o funcionário da empreiteira afirmou que a empresa repassou R$ 6 milhões para a campanha do pastor para que ele ajudasse a candidatura de Aécio Neves pelo PSDB.
Na época, o Pastor Everaldo afirmou que sua campanha "foi bastante modesta, com gastos de R$ 1,4 milhão" e que as doações "obedeceram a legislação vigente". "A campanha deixou dívidas que estão sendo pagas até hoje."
Entre 2016 e 2018, Everaldo também foi companheiro de partido de Jair Bolsonaro. O pastor chegou a batizar o presidente nas águas do Rio Jordão em 2016.

Defesa
Em nota, a defesa do Pastor Everaldo afirmou que ele sempre esteve à disposição de todas as autoridades e reitera a sua confiança na Justiça.
Também por meio de nota, o PSC informou que o ex-senador e ex-deputado Marcondes Gadelha, vice-presidente nacional da legenda, assume provisoriamente o cargo de presidente. O calendário eleitoral do partido segue sem alteração.
O PSC informa ainda que confia na Justiça e no amplo direito à defesa de todos os cidadãos e que o pastor, assim como o governador Wilson Witzel, sempre estiveram à disposição das autoridades.
O pastor seria ouvido por uma comissão da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) que investiga gastos públicos durante a pandemia do coronavírus.


Pastor Everaldo foi preso na manhã desta sexta-feira (28) pela Polícia Federal — Foto: Reprodução/ TV Globo

Witzel afastado
O governador Wilson Witzel e outras oito pessoas, incluindo o Pastor Everaldo, foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por corrupção.
No total, são 17 mandados de prisão, sendo seis preventivas e 11 temporárias, e 72 de busca e apreensão.
Não há ordem de prisão contra o governador. As diligências foram autorizadas pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Benedito Gonçalves.
A defesa de Witzel disse que "recebe com grande surpresa a decisão de afastamento do cargo, tomada de forma monocrática e com tamanha gravidade".
"Os advogados aguardam o acesso ao conteúdo da decisão para tomar as medidas cabíveis", diz a nota.
A acusação leva em conta pagamentos efetuados por empresas ligadas ao empresário Mário Peixoto ao escritório de advocacia de Helena Witzel, mulher do governador.
Também são objeto da denúncia pagamentos feitos por empresa da família de Gothardo Lopes Netto, médico e ex-prefeito de Volta Redonda, ao escritório da primeira-dama.
Conforme consta da acusação encaminhada ao STJ, a contratação do escritório de advocacia consistiu em artifício para permitir a transferência indireta de valores de Mário Peixoto e Gothardo Lopes Netto para Wilson Witzel.
A operação, batizada de Tris in Idem, é um desdobramento da Operação Favorito e da Operação Placebo -- ambas em maio, e da delação premiada de Edmar Santos, ex-secretário de Saúde.
O nome é uma referência ao terceiro governador que, segundo os investigadores, faz uso de um esquema semelhante de corrupção – em menção oculta aos ex-governadores Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão.

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