sábado, 8 de maio de 2021

FIQUE CALADO, MOURÃO!

 

Jacarezinho: declaração de Mourão sobre vítimas revela o pensamento torpe de um governo totalitarista.
Por Redação Ucho.Info/07 de maio de 2021.



A máxima “diga-me com quem andas e te direi quem és” se encaixa com perfeição no perfil de alguns palacianos. Tomando por base que o Palácio do Planalto é frequentado por falsos cristãos, que invocam o nome de Deus com a mesma facilidade com que defendem a matança, não custa lembrar citação bíblica que explica o comportamento de alguns integrantes da cúpula do governo: “Não vos enganeis. As más companhias corrompem os bons costumes” (1 Coríntios 15:33).
Vice-presidente da República, o general da reserva Hamilton Mourão – um poeta quando calado – parece ter sido contaminado pelo desvario que reina em alguns gabinetes da sede do Executivo. Nesta sexta-feira (7), ao chegar ao Palácio do Planalto, Mourão foi questionado sobre a chacina na comunidade do Jacarezinho, na cidade do Rio de Janeiro, e afirmou que dos 25 mortos durante a Operação Exceptis, 24 eram “bandidos”.
“Tudo bandido! Entra um policial numa operação normal e leva um tiro na cabeça de cima de uma laje. Lamentavelmente, essas quadrilhas do narcotráfico são verdadeiras narcoguerrilhas, têm controle sobre determinadas áreas e é um problema da cidade do Rio de Janeiro”, disse Mourão. “É um problema sério da cidade do Rio de Janeiro, que vamos ter que resolver um dia ou outro”, completou.
Mourão, que sempre foi visto por parte da opinião pública como moderado, ignorou o princípio constitucional da presunção de inocência ao não apresentar uma prova sequer para embasar sua esdrúxula e preconceituosa afirmação.
Mesmo que as 24 pessoas mortas pelos policiais tivessem algum envolvimento com crimes ou integrassem as facções que dominam muitas comunidades do Rio de Janeiro, a afirmação de Mourão é um escárnio que serve apenas para ameaçar a democracia, fermentar o “vale tudo” e aumentar a polarização política incentivada pelo presidente da República.
Mais uma vez lembramos que nosso papel não é defender criminosos, mas exigir dos representantes do Estado incondicional respeito aos direitos do cidadão, dentre os quais a segurança pública. Deflagrar uma operação policial com 250 agentes em área densamente povoada, como se todos os moradores do local fossem criminosos, mostra a devastadora incompetência do Estado.
Além disso, a Operação Exceptis desrespeitou de forma flagrante decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que estabeleceu condições para a realização de ações policiais no Rio de Janeiro durante a pandemia, devendo ser informadas previamente ao Ministério Público.
Um governo que fracassou na adoção de medidas para minimizar a crise econômica e alargou o fosso da crise social existente no País deveria fazer um “mea culpa”, não defender chacinas promovidas por quem deveria primar pela competência e pelo equilíbrio.
A desassistência que domina as comunidades carentes do Rio de Janeiro e de outras partes do Brasil é o fiel retrato de um país que fracassou como nação, mas cujos governantes insistem em fechar os olhos para a realidade.
Mourão, com tão estapafúrdia declaração, demonstra que o convívio com Bolsonaro foi prejudicial, pois nenhum homem público com doses rasas de coerência classificaria, sem apresentar provas, que os mortos em uma chacina são “todos bandidos”. Muito estranhamente, o vice-presidente não faz qualquer comentário mais duro sobre os milicianos ligados ao clã presidencial, alguns especializados em “rachadinhas” e “funcionários fantasmas”.
A pandemia do novo coronavírus e a incompetência do governo federal em enfrentar a crise sanitária impedem que os cidadãos de bem saiam às ruas para protestar, mas é importante frisar que as redes sociais, se usadas de maneira adequada, promovem um estrago considerável na vida de quem acredita ser dono do poder. Basta começar!

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