A dois anos do primeiro Campeonato Mundial de Futebol
do pós-guerra, os preparativos para o torneio no Brasil seguem
a passos de tartaruga. Os cartolas da Fifa estão preocupados.
O moderno estádio municipal do Pacaembu, em São Paulo: um dos poucos campos prontos para receber a Copa do Mundo.
Há exatos dez anos, no Congresso da Fifa em Paris, o representante da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), jornalista Célio de Barros, lançou a candidatura do Brasil a país-sede do Campeonato Mundial de Futebol de 1942. O presidente Jules Rimet recebeu a proposta e agradeceu o entusiasmo, porém deixou claro que a Alemanha era a preferida. Os tedescos apresentaram sua postulação um par de anos antes e já tinham sediado com sucesso os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936 assim, levavam ampla vantagem na corrida. Os figurões do futebol só não contavam com os delírios do sanguinário capitão germânico Adolf Hitler, que em 1939 entrou de sola na Polônia e transformou o mundo em uma praça de guerra nas temporadas seguintes, impossibilitando assim a organização do quarto torneio mundial do jogo criado pelos ingleses. Finda a batalha, seis longos anos depois, era hora de ressuscitar a competição, que simplesmente caiu no colo do Brasil a Alemanha, por motivos óbvios, era carta fora do baralho. Em um novo Congresso da Fifa, em Luxemburgo, dois anos atrás, Rimet chancelou a candidatura única brasileira e confirmou o país como anfitrião da Copa do Mundo de 1950.
Objeto do desejo: Jules Rimet entrega a taça aos fortes uruguaios, no torneio de 1930.
Estamos agora a pouco mais de dois anos do início do certame portanto, na metade do caminho entre a confirmação da entidade máxima do esporte e a data prevista para o pontapé inicial da partida de estréia. E o torcedor se pergunta: como andam os preparativos para receber as dezesseis nações da elite do esporte bretão? A resposta, infelizmente, é bem brasileira: não andam. Ainda não foi montado sequer um comitê para tratar das inúmeras questões que envolvem a estruturação de tão complexo evento nos bastidores da CBD, é comentada a criação de um Diretório Geral destinado a cuidar do assunto, mas este ainda não saiu do papel. O tempo urge. Além disso, a maioria das capitais brasileiras conta apenas com estádios de porte médio, sem a envergadura necessária para receber as pelejas do torneio máximo do futebol internacional São Paulo, com o Pacaembu, e Curitiba, com o Durival Britto e Silva, modernas praças esportivas inauguradas nesta década, são as exceções. Em Belo Horizonte, por exemplo, os estádios de América, Cruzeiro e Atlético são acanhados até mesmo para receber os torcedores das equipes locais; não à toa, o prefeito Otacílio Negrão de Lima, quando assumiu o cargo, destinou polpuda verba para solucionar o que classificou de "imperioso problema" dos estádios da capital mineira. O pequeno Sete de Setembro de Futebol e Regatas aproveitou-se do oferecimento e começou a levantar uma praça esportiva projetada para acomodar 45.000 pessoas, mas as obras seguem em ritmo moroso se ficarão prontas a tempo da Copa, é uma incógnita. Em Porto Alegre, o Sport Club Internacional deu início a uma campanha para reformar sua casa, o Estádio dos Eucaliptos, com capacidade para 10.000 torcedores. O principal objetivo é transformar o pavilhão de madeira da rua Silveiro em uma arquibancada de concreto. Mas o projeto também não tem prazo para ser concluído.
Ary Barroso: defensor do Maracanã
Colosso polêmico - A maior preocupação, porém, vem do Distrito Federal. O futuro Estádio Municipal do Rio de Janeiro, o cartão-postal do campeonato mundial aos olhos do mundo, ainda não saiu da estaca zero. Previstos para o início deste ano, os trabalhos de construção do gigante do Maracanã não começaram, o que já causa apreensão entre os dirigentes da Fifa. Emissários da entidade devem desembarcar em breve no Rio de Janeiro a fim de acompanhar os próximos passos desta difícil gênese. Afinal, o estádio vem sendo alvo de polêmica desde que a prefeitura anunciou a abertura da concorrência para sua construção defendida em campanha popular encabeçada pelo cronista Mario Filho, do Jornal dos Sports. O vereador Carlos Lacerda, da UDN, fez intensa oposição ao projeto na Câmara Municipal. O udenista não concordava com a localização da praça anunciada pela prefeitura (o antigo terreno do Derby Club) nem com sua capacidade (150.000 pessoas), preferindo um estádio de 60.000 lugares em Jacarepaguá. Colega de vereança e partido de Lacerda, o compositor Ary Barroso conseguiu apoio suficiente entre a bancada comunista e garantiu a aprovação do projeto. Agora só resta tirar o colosso do papel.
Alheio a essas pendengas, o técnico do escrete nacional, Flávio Costa, espera que a perda da Copa Rio Branco para o Uruguai, no mês passado, não abale o moral dos jogadores que, a bem da verdade, terão muito tempo para esquecer esse revés. O próximo compromisso oficial da seleção, o Campeonato Sul-Americano, a ser disputado também no Brasil, está marcado apenas para abril do ano que vem. A grande novidade da participação brasileira em Montevidéu foi a estréia do guarda-metas Barbosa, que já vinha se destacando havia algum tempo com a camisa do Vasco da Gama. O atleta de 27 anos teve boa atuação no empate de 1 a 1 contra a Celeste Olímpica, e deve ameaçar a posição de Luiz Borracha, arqueiro do Flamengo, titular de Flávio Costa nos últimos três jogos da Seleção. No prélio seguinte em terras meridionais, Borracha voltou à meta, mas não pôde evitar a derrota brasileira por 4 a 2 para os campeões mundiais de 1930. Olho neles.
VEJA: maio de 1948.
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