domingo, 22 de junho de 2014

" A CHUVA"

Um mercador voltava um dia da feira; na garupa do seu cavalo trazia uma mala cheia de dinheiro.
A chuva caía com violência e o bom homem estava molhado até à medula dos ossos.
Maldizia por isso o mau tempo e queixava-se de Deus por lhe dar uma viagem tão aborrecida.
Passando daí a instantes por uma floresta muito espessa, viu à margem do caminho um salteador; sentiu um susto tão grande, que supôs ver chegado a sua última hora de vida.
O salteador levou a coronha da espingarda à altura do rosto e fez-lhe pontaria; porém, estando a escorva molhada pela chuva, falhou fogo e o mercador, apertando as esporas do animal, escapou felizmente de ser morto.
Depois que se viu livre do perigo, disse consigo:
- Que mal fiz eu em não suportar com paciência a chuva como um benefício de Deus. Se não estivesse chovendo, a esta hora estaria morto e os meus filhos, em vão, esperariam pela minha volta. A chuva, que eu maldizia, foi que me salvou a vida e a fortuna.
Nuno Álvares.

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