É uma delícia!
Não que eu já sentisse esse prazer, porque nunca, em toda a minha vida, jamais entrei num trem.
Mas fico imaginando de repente soltar aquele olhar comprido pelas janelas abertas, sentindo a brisa soprando até emaranhar todos os fios dos meus cabelos, ela que passa ora suave e ora agitada, claro que de acordo com o andamento da locomotiva.
Numa viagem de trem, a gente se distrai de pensamentos e coisas ruins que no fim das contas só existem mesmo é dentro da nossa cabeça.
A paisagem nos embala como a uma criança que viaja agasalhada pelo colo da mãe.
Tem gado pastando, ribeirões e açudes piscando ao sol; de vez em quando um pescador solitário.
Parece até que as terras não têm dono quando a gente observa pelas janelas do trem...
Tem tratores trabalhando a terra, plantações de arroz, de trigo, de soja, tão enormes, tão parecidas e tão verdinhas que a gente mal distingue uma da outra.
Tem milharais a se perderem de vista, tem feijão já querendo secar no pé, tem laranjeiras e mexeriqueiras e ameixeiras, tudo passando pertinho da estrada.
Tem mangueirões ao longe, tem gente tocando o gado com um laço na mão, tem casinhas e casarões e até capelinhas com mastros do santo padroeiro do lugar.
Tem cidades que a gente só percebe no estacionar do trem em cada estação.
Puxa vida!
Que delícia a gente estar aqui sentado a "ouvir" tudo isso, agradecendo a Deus por toda essa vida que só vai parar quando a gente descer do trem no ponto final!
Viajou comigo?
Viu como é bom estar vivo?
E se acaso um dia você estiver depressivo, me contate; vou levar você comigo nessa viagem de trem.
Prometo!
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