sexta-feira, 16 de novembro de 2018

VAMOS SOLTAR ROJÕES. EM SÃO MIGUEL ARCANJO, O "MAIS MÉDICOS" FOI DE UMA UTILIDADE SEM TAMANHO.

'Triste por deixar pacientes que precisam de nós', diz médica cubana que atua no interior de SP.

Por 
Paola Patriarca, G1 Itapetininga e Região






A cubana Evelyn Fernandes atende moradores de São Miguel Arcanjo por meio do Mais Médicos — Fotos: Evelyn Fernandes/Arquivo Pessoal.
"Eu voltarei feliz para meu país. Feliz por saber que cumpri minha responsabilidade como médica. Mas fico triste pelo Brasil e por deixar pacientes que precisam de nós. Deixarei gente que precisa do nosso trabalho, do nosso cuidado."
A afirmação é da médica cubana Evelyn Fernandes, de 28 anos, que faz parte de um grupo de médicos cubanos do programa social 'Mais Médicos', que atua em São Miguel Arcanjo, interior de São Paulo.

Médicos cubanos atuam em postos de saúde de São Miguel Arcanjo — Foto: Reprodução/ TV TEM.
O governo de Cuba informou na quarta-feira (14) que decidiu sair do programa social Mais Médicos, citando "referências diretas, depreciativas e ameaçadoras" feitas pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) à presença dos médicos cubanos no Brasil.
O país caribenho envia profissionais para atuar no Sistema Único de Saúde desde 2013, quando o governo da então presidente Dilma Rousseff (PT) criou o programa para atender regiões carentes sem cobertura médica.

Foto: Reprodução/TV TEM.
De acordo com Evelyn, ao todo são sete médicos que trabalham nos postos de saúde da cidade, que tem cerca de 33 mil habitantes. Para ela, que está há um ano no Brasil, será prejudicial a retirada dos profissionais cubanos.
"Eu vim com o grupo disposta a ajudar as pessoas. Vim com o grupo e fiquei muito feliz. Atendo hoje o posto de saúde da área central e pessoas da zona rural. São pacientes que necessitam da gente. A cidade vai sentir muito e isso será um reflexo no Brasil também", diz.
A médica conta que já atuou três anos na Venezuela e que exerce a medicina como forma de responsabilidade social.
Médica cubana diz que vai voltar ao país dela com a sensação de dever cumprido. 
"Eu trabalho de coração. Vim para servir. Fico triste pelo Brasil, mas volto sabendo que fiz o meu melhor".
Questionada sobre uma data em relação à saída dos profissionais da cidade, Evelyn ainda não sabe.
"Ainda não temos data e pode ser que seja logo ou demore um pouco. Mas assim que nos informarem, retornarei para Cuba."


Primeiros médicos cubanos chegaram em 2014 em São Miguel Arcanjo — Foto: Divulgação/Prefeitura de São Miguel Arcanjo. 
De acordo com a secretária de Saúde Katia Raskivicius, desde então, das 10 equipes do "Saúde da Família" que atuam nos postos de saúde dos bairros, seis são formadas por médicos cubanos.
"Tem mais médico cubano que brasileiro na cidade. Então, certamente sentiremos muito com a saída desses profissionais. São sete médicos estrangeiros contra três. Quando recebermos a data da saída, teremos que fazer um esquema com os três profissionais que temos até recebermos novos. Os postos não ficarão sem médicos, mas terá um grande impacto", afirmou ao G1.
Ainda segundo a secretária, cada profissional atende 24 pacientes por dia. Com isso, Katia acredita que o município precisará abrir concursos públicos.
"Vamos ter que abrir concursos públicos e ter um plano B. Ainda não sabemos como vai ser e vamos aguardar as diretrizes do Ministério da Saúde. Mas certamente haverá impacto em São Miguel Arcanjo, sem contar no impacto social."

Expulsão pelo Revalida
Em agosto, ainda em campanha, Bolsonaro declarou que ele "expulsaria" os médicos cubanos do Brasil com base no exame de revalidação de diploma de médicos formados no exterior, o Revalida. A promessa também estava em seu plano de governo.
Fora do Mais Médicos, os formados no exterior não podem atuar na medicina brasileira sem a aprovação no Revalida. Mas no caso do programa federal, todos os estrangeiros participantes têm autorização de atuar no Brasil mesmo sem ter se submetido ao exame.

'Mais Médicos' começaram a receber médicos cubanos em 2013 — Foto: TV Verdes Mares/Reprodução.
O Ministério da Saúde recebeu comunicado da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), no qual o governo cubano informa que encerrou sua parceira no programa Mais Médicos. Diante do fato, o governo federal está adotando todas as medidas para garantir a assistência dos brasileiros atendidos pelas equipes da Saúde da Família que contam com profissionais de Cuba.

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