Dr. Semana: A balança do juiz-ministro
No diagnóstico que faz neste fim de ano, Dr. Semana elogia o novel presidente por convidar o popular juiz Moro à pasta da Justiça.
Como anunciado há algum tempo, Dr. Semana comunicou o respeitável público que se achava em solo pátrio, e que iria ministrar aos necessitados os socorros de sua infalível ciência. Também, como informado, enquanto não estabelece sua clínica, Dr. Semana irá, periodicamente, municiar os migalheiros com homeopáticos comentários.
No diagnóstico que faz neste fim de ano, Dr. Semana elogia o novel presidente por convidar o popular juiz Moro à pasta da Justiça. "Nada mais emblemático para um governo eleito com a bandeira do combate ao mal feito".
Há, no entanto, alguns "poréns" que não devem ser olvidados.
Vejamo-los.
"Doutor Semana: A balança do juiz-ministro"
Por Doutor Semana
Dr. Semana é um pragmático. Obcecado pelo Estado de Direito, apolítico e totalmente a favor da livre iniciativa. Nesse sentido está muito otimista com a chegada de um rascunho de Governo liberal ao Brasil.
Dr. Semana já alertou nesse espaço para a existência de "dois pesos e duas medidas" entre nossos jovens procuradores. Desde o "alerta" do procurador-réu Marcelo Miller sobre a criação de carrascos nas forças-tarefa Brasil afora feito nas páginas Amarelas da Veja, sendo ele mesmo um dos mais agressivos usuários da tortura psicológica de candidatos a delator, até a defesa contundente das nossas estrelas de Curitiba ao fato de darem palestras cobradas, ao mesmo tempo que investigam o ex-presidente Lula por cobrar por elas, mesmo na presença de centenas de convidados.
Faço agora um novo alerta. Nosso novo presidente marcou um novo gol de placa ao convidar o popular juiz Moro ao Ministério da Justiça. Nada mais emblemático para um governo eleito com a bandeira do combate ao mal feito.
Ao fazer esse saudável simbolismo cruzar a campanha eleitoral e aterrissar no governo, começam alguns desafios de lado a lado.
Logo nos primeiros dias, nosso juiz-herói foi obrigado a esclarecer sua visão sobre caixa dois, dado que um dos ministros mais próximos ao presidente tinha recém confessado a prática, apontada por delatores.
Nosso juiz-ministro passou então a fazer uma releitura desta prática. Ao contrário do amplamente divulgado por ele e por seus jovens assistentes de acusação em Curitiba, que outrora diziam ser o caixa dois um crime pior que corrupção, pois corrompe o processo eleitoral, agora simplesmente classifica de prática corriqueira da política nacional, que dissociada da corrupção, beira o inofensivo. Bela mudança, aliás positiva na visão deste cronista.
Um novo fato, desta vez mais importante, e ainda inconclusivo volta a perturbar nosso juiz-ministro. Um graduado assessor do filho do presidente é flagrado recebendo depósitos mensais de funcionários do gabinete do então deputado da Assembleia Legislativa do Rio. Mais ainda, os depósitos são invariavelmente seguidos de saques em dinheiro. Tudo muito suspeito e transparente.
Para nossos sagazes investigadores de Curitiba ou Rio a suspeita é óbvia e o caminho está claro: execute-se à prisão preventiva do tal Fabricio, naturalmente como homem de bem, não resistirá às condições de presídios brasileiros e fará uma delação admitindo a corriqueira prática de ‘dobradinha’, tão comum nas nossas Assembleias Estaduais.
Na sequência, caracterizado o crime, pela jurisprudência nacional, de peculato, dá-se ares de rigor, adicionando Lavagem de Dinheiro (afinal o dinheiro sacado era produto de um crime) e Organização Criminosa (afinal, são várias pessoas envolvidas no mesmo ilícito). Pronto, temos o senador eleito com mais votos no Brasil, e filho do presidente, réu de crimes gravíssimos, talvez até preso como aconteceu com outros.
Como um depósito foi feito para a conta da primeira-dama, com admitida anuência do presidente eleito, a trama pode novamente deixar o Brasil político de joelhos. Logo no início de um mandato tão aguardado.
Portanto, ou passamos a entender que o Brasil passa por uma fase de transição para um ambiente de tolerância zero (frise-se, dentro de parâmetros construtivos e educadores, sem excessos e vinganças), ou viveremos nova crise institucional de proporções ainda maiores, com danos irreparáveis para nossa economia e sociedade.
Claro, existe ainda uma terceira alternativa: considerar crime apenas aquilo que acontece com os outros, com o vizinho, com os inimigos políticos, apenas com aqueles que criticamos nas redes sociais. Esse sim, o caminho mais certo para a barbárie institucional.
Com a palavra, nosso juiz-ministro, o único com credibilidade para implantar essa transição tão positiva e necessária ao nosso sofrido Brasil.
Feliz 2019, com muita paz e saúde, para todos meus queridos e pensantes leitores.
In Migalhas Quentes.
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