Por Ucho Haddad/
17 de maio de 2019
(*) Ucho Haddad
Não é de hoje que afirmo ser Jair Bolsonaro uma ode à estupidez, o que, de chofre, o descredencia para qualquer cargo público, principalmente para a Presidência da República, que exige competência, responsabilidade e o chamado “jogo de cintura”.
Depois de anos de desmandos protagonizados pelos antecessores, Bolsonaro subiu a rampa do Palácio do Planalto acreditando ser o mata-borrão da lama política nacional.
Essa aberração só foi possível porque eleito e eleitores chafurdam no mesmo cocho da ignorância.
Quem votou em Bolsonaro apenas porque era preciso votar contra o PT começa a descobrir o óbvio: era preciso, acima de tudo, votar a favor do Brasil.
E votar em Bolsonaro, como têm demonstrado os acontecimentos recentes, é votar contra o Brasil, um país que só não continua parado porque está caminhando para trás. Mesmo assim, há quem entenda que esse movimento é uma conquista extraordinária.
Os obtusos aduladores do James Bond de Pindorama esforçam-se como podem para defender alguém indefensável. E o fazem de maneira pífia e deprimente porque estigmatizou-se que a esquerda não mais tem espaço na política brasileira. É importante salientar que na política não há espaço para ladroagem, seja de esquerda ou de direita.
E esses ladrões devem ser varridos do mapa, juntamente com suas ideologias, mesmo que estejam sob as asas do presidente da República.
Muito tem se falado sobre armações para apear Bolsonaro do cargo, mas o presidente dá conta do recado sozinho.
Na melhor das hipóteses solicitará a ajuda dos filhos, que, é bom lembrar, são especialistas em derrubar políticos e colocar apaniguados détraqués nos lugares desocupados.
Nos 28 anos em que passou no Parlamento, Bolsonaro teve tempo suficiente para ler a Constituição, mas certamente não o fez. O que mostra o quanto o contribuinte brasileiro jogou de dinheiro no lixo. Por isso desconhece os atalhos que levam ao “crime de responsabilidade”, que por sua vez abrem caminho para o impeachment.
Fosse o Brasil um país minimamente sério e seguidor da letra fria da lei, o presidente da República já teria voltado para casa. Afinal, em menos de cinco meses de governo muitas foram suas incursões que flertaram escandalosamente com o crime de responsabilidade.
A mais recente envolve a ordem para cortar recursos da Educação, decisão que começou, para variar (sic), por razões ideológicas.
Ministro da pasta, Abraham Weintraub anunciou que cortaria 30% das verbas destinadas à Universidade Federal Fluminense (UFF), à Universidade Federal da Bahia (UFBA) e à Universidade de Brasília (UnB).
Motivo: balbúrdia.
Com a decisão caindo como bomba na opinião pública, o jeito foi buscar uma saída de emergência em meio ao incêndio causado pela declaração de Weintraub.
A solução encontrada foi anunciar um corte linear para todas as universidades federais. De igual modo, o assunto causou ruído, obrigando o governo a explicar que o corte impactaria apenas as despesas discricionárias, como se universidades pudessem ficar sem água, energia e manutenção, por exemplo.
Diante de líderes partidários, no Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro telefonou para o ministro da Educação e determinou a suspensão imediata do corte nas verbas destinadas ao setor.
Os parlamentares, incluso o líder do governo na Câmara dos Deputados, anunciaram a decisão do presidente da República, mas foram desmentidos em seguida.
Em suma, Bolsonaro não tem palavra, muito menos condições de governar.
Na quarta-feira (15), estudantes e professores tomaram as ruas do País para protestar contra o corte de verbas destinadas à Educação.
O governo tentou minimizar o movimento, mas diante da realidade dos fatos o melhor foi recuar.
O movimento ganhou força extra depois que Bolsonaro, em Dallas, nos Estados Unidos, chamou os estudantes que protestavam de “idiotas úteis” e “massa de manobra”.
Até mesmo assessores do presidente admitiram que ele errou.
Bolsonaro não sabe por qual razão chegou à Presidência, por isso tropeça de maneira recorrente nas explicações que é obrigado a dar por causa de um governo que desde o começo é uma literal balbúrdia.
Ignaro confesso em vários assuntos, o presidente é o melhor exemplo da necessidade de mais investimentos na Educação. Até porque, ele não sabe a diferença jurídica que existe entre corte de verbas e contingenciamento.
Na prática é a mesma coisa, mas na teoria a coisa pega.
Pelo fato de na teoria o gato subir no telhado é que Bolsonaro foi aconselhado a não cometer ato falho (se é que isso existe) e passar a falar em contingenciamento.
A razão é uma só: corte de verbas pode ser considerado crime de responsabilidade, ao passo que contingenciamento é fruto da circunstância econômica e demonstra respeito à lei de responsabilidade fiscal.
Ainda nos EUA, Bolsonaro foi questionado por uma jornalista da Folha sobre o corte de verbas destinadas à Educação. Irritado, o que não é novidade, o presidente agrediu verbalmente a repórter ao afirmar:
“Primeiro, vocês da Folha de S.Paulo têm que entrar de novo em uma faculdade que presta e fazer bom jornalismo. Isso que a Folha tem que fazer. E não contratar qualquer um, qualquer uma, pra ser jornalista. Pra ficar perguntando besteira e publicando coisa nojenta”.
Que o presidente da República tem rompantes de descontrole comportamental todos sabem, mas publicar nas redes sociais o vídeo em que destrata a jornalista, no afã de tentar reverter um cenário desfavorável, mostra que o caso de descompensação psíquica é mais grave do que se imaginava.
Jair Bolsonaro disse recentemente que não nasceu para ser presidente – o que já ficou claro –, mas para ser militar. Contudo, não se pode esquecer que nem para ser militar Bolsonaro serve, pois, em fevereiro de 1988, foi condenado, em decisão unânime do Conselho de Justificação do Exército, por “desvio grave de personalidade e uma deformação profissional”. Em suma, àquela época os militares enviaram um claro recado aos brasileiros, que preferiram fazer ouvidos moucos.
Bolsonaro, como afirmei acima, é a fulanização da ignorância, mas acredita ser o último gênio da raça apenas porque conseguiu chegar ao Poder central a reboque de um falso discurso moralizador.
Porém, estúpido que é, jamais soube o que é educação, assim como confunde a Presidência da República com a estrebaria do quartel.
(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, escritor, poeta, palestrante e fotógrafo por devoção.
Meu guru.
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