sexta-feira, 17 de maio de 2019

QUE TAL PAGAREM A CONTA, BOLSONAROS?

Bolsonaro disse que ele e o filho “pagariam a conta” se algo errado existisse com Queiroz, agora se irrita.
Por Redação Ucho.Info/
16 de maio de 2019.



Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República em 28 de outubro de 2018, quando sua vitória nas urnas foi confirmada no segundo turno da corrida eleitoral. 
A partir de então, Bolsonaro passou a acreditar que o País deveria curvar-se diante de sua figura, certo de que a lei passaria a valer apenas aos adversários, não a ele e seus familiares.
Em 12 de dezembro do ano passado, já na condição de presidente eleito, Bolsonaro viu-se obrigado a comentar sobre o escândalo envolvendo o filho Flávio e o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz. 
Na ocasião, disse que ele e o filho pagariam “a conta” caso houvesse algo de “errado” com Fabrício, ex-assessor do primogênito na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Além disso, Queiroz é amigo de Bolsonaro há anos, tendo frequentado com assiduidade a casa do agora presidente da República, além de acompanhá-lo em pescarias.
Bolsonaro fez tal declaração durante transmissão ao vivo no Facebook e comentou o fato de o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) ter encontrado “movimentação atípica” de R$ 1,2 milhão na conta bancária de Fabrício Queiroz.
“Se algo estiver errado, seja comigo, com meu filho ou com o Queiroz, que paguemos a conta deste erro, porque nós não podemos comungar com o erro de ninguém. Da minha parte, estou aberto a quem quiser fazer qualquer pergunta sobre este assunto, tenho sempre me colocado à disposição e o que a gente mais quer é que isso seja esclarecido o mais rápido possível, sejam apuradas as responsabilidades, se é minha, se é do meu filho, se é do Queiroz ou de ninguém”, afirmou Bolsonaro.
O relatório do Coaf sobre a movimentação de Fabrício vazou dias após Flávio Bolsonaro, abusando da soberba, ter afirmado, em entrevista à Globo News, que não havia a menor possibilidade de diálogo com o senador Renan Calheiros. 
A declaração, com pitadas de deboche, tinha como pano de fundo a eleição para a presidência do Senado.
Em 23 de janeiro deste ano, em Davos (Suíça), onde participou do Fórum Econômico Mundial, Jair Bolsonaro foi questionado pela agência de notícias Bloomberg sobre o escândalo envolvendo o filho. 
O presidente afirmou na ocasião que Flávio “pagará o preço” se comprovadas as transações financeiras irregulares de que é suspeito.
“Se por ventura ele vier a errar, se for comprovado, eu lamento como pai, mas ele vai pagar aí o preço dessas ações que não podemos coadunar”, declarou Bolsonaro à agência Bloomberg.
Para saber se alguém é culpado é preciso que haja uma investigação. 
E é exatamente isso que o Ministério Público do Rio de Janeiro faz em relação a Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz. Acontece que a família Bolsonaro acredita estar acima da lei, por isso não aceita qualquer tipo de investigação que mostre à opinião pública que o clã presidencial é “mais do mesmo”.
Depois de muitos ataques de Flávio Bolsonaro aos promotores encarregados do caso, o MP fluminense conseguiu na Justiça a quebra dos sigilos bancário e fiscal do senador pelo PSL, de Fabrício Queiroz e de mais 88 pessoas físicas e jurídicas.
Os investigadores afirmam que Flávio Bolsonaro lavou dinheiro através da compra de imóveis e que em seu gabinete na Alerj funcionou uma organização criminosa desde 2007, com o objetivo específico de desviar dinheiro público.
Nesta quinta-feira (16), em Dallas (EUA), onde foi receber o prêmio “Personalidade do Ano”, Jair Bolsonaro decidiu falar sobre a decisão da Justiça de autorizar a quebra dos sigilos bancário e fiscal do filho.
“Fizeram aquilo para me prejudicar”, disse o presidente. “Estão fazendo um esculacho em cima”, do senador. “Querem me atingir? Venham pra cima de mim. Eu abro o meu sigilo, não vão me pegar”, completou o irritado Jair Bolsonaro.
O presidente da República precisa compreender que a Constituição em seu artigo 5º (caput) estabelece que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Além disso, parte do slogan da campanha do próprio Bolsonaro era “Brasil acima de tudo”. 
Ora, se o País está acima de tudo, não há razão para se indignar diante da estrita aplicação da lei.
Não obstante, se o próprio Flávio Bolsonaro afirma que nada fez de errado, não há motivo para pai e filho se preocuparem e se irritarem. 
Que as investigações avancem e a aludida inocência seja comprovada. 
Do contrário, que o presidente da República faça valer o que disse: que ele e o filho “paguem a conta”.


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