quinta-feira, 28 de outubro de 2021

" METADE" - OSWALDO MONTENEGRO



Que a força do medo que tenho 

Não me impeça de ver o que anseio 

Que a morte de tudo em que acredito 

Não me tape os ouvidos e a boca 

Porque metade de mim é o que eu grito 

Mas a outra metade é silêncio. 

Que a música que ouço ao longe 

Seja linda ainda que tristeza 

Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada 

Mesmo que distante 

Porque metade de mim é partida 

Mas a outra metade é saudade. 

Que as palavras que eu falo 

Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor

Apenas respeitadas 

Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos 

Porque metade de mim é o que ouço 

Mas a outra metade é o que calo. 

Que essa minha vontade de ir embora 

Se transforme na calma e na paz que eu mereço 

Que essa tensão que me corrói por dentro 

Seja um dia recompensada 

Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão. 

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável. 

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso 

Que eu me lembro ter dado na infância 

Por que metade de mim é a lembrança do que fui 

A outra metade eu não sei. 

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria 

Pra me fazer aquietar o espírito 

E que o teu silêncio me fale cada vez mais 

Porque metade de mim é abrigo 

Mas a outra metade é cansaço. 

Que a arte nos aponte uma resposta 

Mesmo que ela não saiba 

E que ninguém a tente complicar 

Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer 

Porque metade de mim é platéia 

E a outra metade é canção. 

E que a minha loucura seja perdoada 

Porque metade de mim é amor 

E a outra metade também. clique aqui

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