segunda-feira, 17 de junho de 2019

PROJETO DE MANEJO DO PIRARUCU PREMIADO NOS EUA TEM AUTORIA DE UM PIEDADENSE.

Biólogo de Piedade é premiado nos EUA por projeto de manejo do pirarucu

O trabalho é desenvolvido por João Campos Silva na extensão do rio Juruá, na Amazônia

João começou a atuar no manejo sustentável do pirarucu há pelo menos 10 anos – Foto: Arquivo pessoal.
O biólogo João Campos Silva, de 36 anos, foi um dos cinco vencedores do Prêmio Rolex de Empreendedorismo 2019, entregue na última sexta-feira (14) em Washington, nos Estados Unidos. Natural de Piedade, o profissional teve reconhecimento pela atuação no manejo sustentável do pirarucu, na extensão do rio Juruá, na Amazônia. O trabalho é desenvolvido por ele junto à equipe da ONG Instituto Juruá e com participação das comunidades ribeirinhas. Aproximadamente duas mil pessoas são beneficiadas diretamente pela geração de renda proporcionada principalmente pela venda da carne do peixe.

João começou a atuar no manejo sustentável do pirarucu há pelo menos 10 anos, logo após ter se formado. De acordo com ele, trata-se de um peixe secularmente importante na Amazônia, de alto valor cultural e de mercado, o que causou sobrepesca no século passado.Prêmio foi entregue na última sexta (14) – Foto: Arquivo pessoal.

A pesca indiscriminada fez com que a espécie quase se extinguisse. Atualmente, há restrições.
“O pirarucu é uma espécie proibida de ser pescada hoje em dia, mas, dentro do manejo, as comunidades passam a ter direito de proteger o território e pescar uma cota desses indivíduos. Essa atividade tem gerado benefícios ecológicos fantásticos, não só em termos de conservação da espécie, mas também de proteção a outras espécies do ecossistema”, explica o biólogo.
O prêmio para o projeto de João dá direito a um cheque de $ 200 mil (R$ 778 mil na cotação do dia). 
A quantia sequer passa pela mão do biólogo e é integralmente destinada ao desenvolvimento da proposta. 
O piedadense diz que servirá, nos próximos dois anos, para consolidar o manejo no rio Juruá, que tem aproximadamente 2 mil quilômetros de extensão e passa por cidades do Amazonas, Acre e Peru e deságua no rio Solimões. 
O dinheiro também será importante para treinar mais pessoas, ampliar o manejo em cerca de 60 comunidades rurais e aperfeiçoar a infraestrutura, além de haver interesse em ampliar o projeto para outras bacias.

O valor do peixe.
O pirarucu é uma espécie bastante peculiar: pode chegar a até 3 metros e 200 quilos. Nas comunidades em que João atua, o quilo do peixe é vendido por R$ 5 ou R$ 6. Uma das intenções principais do projeto é justamente aumentar um pouco o valor da carne, deixando-o mais justo. “Até porque, embora seja proibida a pesca fora das comunidades, ainda acontece. Aí o peixe manejado acaba competindo com o peixe ilegal. Nossos cálculos indicam que o preço mínimo justo seria de 13 reais”, comenta.
Além de dar o preço correto ao quilo do pirarucu e do trabalho de manejo sustentável, há uma proposta paralela já iniciada, chamada de “Gosto da Amazônia”, com objetivo de levar a carne do pirarucu a outros Estados do Brasil.
“Já começamos um projeto com vários chefs do Rio de Janeiro. A ideia é alastrar isso, gerar alimento de alta qualidade, mas com valor social e ambiental forte e agregado. O projeto é justamente para tentar alavancar um pouco do preço para melhorar a situação dos pescadores locais”, afirma ele, que considera a carne “muito boa e muito apreciada”.


O pirarucu pode chegar a até 3 metros e 200 quilos – Foto: Arquivo pessoal.

Apesar de ser o “cabeça” do prêmio, João faz questão de ressaltar a participação dos outros integrantes da ONG: Carlos Peres, Carolina Freitas, Hugo Costa, Andressa Scabin e Joseph Hawes. E também destaca a importância das comunidades envolvidas. “É um trabalho extremamente coletivo. É preciso mostrar que as comunidades locais, indígenas e não indígenas, estão assegurando a proteção da Amazônia. Quando cheguei aqui, há 10 anos, tive contato com as comunidades tradicionais e indígenas e comecei a perceber que a melhor forma de proteger a floresta é proteger o bem-estar dessas comunidades. E o exemplo do pirarucu é um que inspira otimismo para pensar numa Amazônia mais justa, mais socialmente inclusiva, mais viva e mais conservada.”

Outro prêmio.
Esta é a segundo premiação recente vencida pelo biólogo. Também neste ano, na categoria Mestre e Doutor do Prêmio Jovem Cientista, ele ficou no primeiro lugar com a pesquisa “O gigante das várzeas: O manejo do pirarucu como modelo de conservação da biodiversidade e transformação social na Amazônia”, desenvolvida na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ele, junto dos outros premiados, Carolina Levis e Gelson Weschenfelder, pode fazer uma imersão no Sistema Britânico de Ciência e Inovação, a convite da Embaixada Britânica.
In Cruzeiro do Sul.

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