Capão Bonito está chegando ao fim de uma era política. A era Tallarico está na beira do precipício. Liderado pelo clã José Carlos Tallarico, essa era começou lá atrás, entre os anos 50 e 60, com o coronel armando suas estratégias para obter vantagens políticas. Costurou, alinhavou e conquistou certa notoriedade e respeito na esfera política. O comandante gostava muito da política de mesa, de bastidor. Seu pódio mais alto foi uma cadeira no Legislativo e uns benefícios com o negócio gráfico.
No início da década de 80, enxergando o enfraquecimento de seu nome no mercado eleitoral, tratou logo de criar um produto mais compatível com a demanda política da época. Lançou o nome de seu filho caçula na disputa por uma vaga na Câmara Municipal. Júnior Tallarico foi eleito com apenas 21 anos, e como um fiel ventríloquo, falava o que lhe falavam, e se movimentava conforme as cordas do clã.
Recém-desmamado, o herdeiro chegou, mesmo com pouco tempo de militância, ao cargo mais alto do poder capão-bonitense. Nas eleições de 88, derrotou Antônio Amaral, um político experiente e que assim como ele, dominava o palanque com bons pronunciamentos orais e verbais. Na Prefeitura, aceitou numa boa o dedo familiar no controle administrativo, e com isso, o herdeiro tallarisqueco foi ganhando rejeições, principalmente na classe mais pensante.
Nas vésperas das eleições de 92, trouxe o que tinha de mais popular no mercado artístico, a Caravana do Gugu. O investimento eleitoreiro não surtiu efeito, e seu candidato a prefeito foi derrotado pelo tucano Hélio de Souza.
Quatro anos depois, as pesquisas apontavam o herdeiro como o favorito. A campanha começou e junto com ela, o declínio na intenção de voto. O impopular Roberto Tamura chegou como azarão e acabou vencendo o pleito carregando a bandeira de antitallarico. Num comício na praça Rui Barbosa, Tamura chegou a classificar o antigo prédio da família Tallarico - próximo ao banco Santander - de “Castelo Mal Assombrado” e não cansava de repetir o argumento de que Tallarico teria utilizado dinheiro da merenda escolar para comprar “chope” (bebida alcoólica). Na plateia, o povo vibrava com o discurso do tucano.
Em 2000, nova decepção: Tallarico foi novamente derrotado, desta vez por uma estreita diferença de 78 votos. Na eleição seguinte não teve jeito, e o jeito foi Junior Tallarico. A população deu uma nova chance ao prefeito mais novo da história de Capão Bonito.
Junior Tallarico foi reconduzido ao comando do Poder Executivo. No palco prometeu não assentar familiares na administração, mas não resistiu às pressões sanguíneas. O irmão controlou tudo e o povo de novo não deixou barato: botou o herdeiro tallariquesco para correr.
A eleição de 2012 está aí. Com ou sem Junior Tallarico, a política capão-bonitense vai registrar o fim de uma era. Apesar de anunciar que está limpo perante a Justiça, o herdeiro foi condenado no último dia 03 de maio, em primeira instância, por improbidade administrativa – irregularidades e supostos direcionamento de licitação.
A pena é a suspensão dos direitos políticos e multa de R$ 415 mil. Na Justiça, ainda cabe recurso ao ex-prefeito, porém, perante a população e ao eleitor, não há o que fazer, a não ser respeitar o nascimento de uma nova era de políticos: menos populares e mais gestores.
Um fenômeno que já ocorreu nas vizinhas Itapeva e Itapetininga.
Francisco Lino é jornalista.
(Publicado no "O Expresso" de 15.05.2.012)
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