quarta-feira, 15 de outubro de 2014

EU PROFESSORA

Durante dois anos, há muito tempo, lecionei na Fazenda Dom Bosco, em São Miguel Arcanjo, propriedade de João Cereser. O mesmo "Cereser" do vinagre "Castelo", do saudoso "Vinho São Miguel Arcanjo", dos grandes parreirais em Jundiaí, das macieiras, lá e cá.
Primeiramente, as aulas aconteciam numa sala contígua à sede da fazenda. Depois de algum tempo, em sede própria. Nos fundos, uma mataria danada. 
E os bugios?
Tinha dia que eles estavam impossíveis.
Barulheira danada!   
Pois bem.
Eu pegava ônibus de São Miguel até a entrada da fazenda. Dali, eram sete quilômetros que eu fazia geralmente à pé; depois consegui um cavalo, mas acabei caindo um belo tombo quando ele desembestou, um dia, e nunca mais quis saber desse animal; tempos mais tarde, consegui que meu pai me emprestasse a sua bicicleta, uma "MonarKona", da qual também acabei caindo na famosa descida que havia na estrada e me machucando um pouco - havia muita pedra.
Não quis mais saber nem de cavalo e nem de bicicleta.
Às vezes, passava um ou outro carro, um trator, uma charrete, uma plaina...
Nessa época, sim, que professor trabalhava. 
Já pensou dar aulas, na mesma sala, para cinco séries e mais MOBRAL?
E as matérias?
E os diários?
Um absurdo, na minha opinião, era ter que ensinar certas coisas que jamais os meninos iriam precisar na vida rural!
Porque naquela época, quem era do mato nascia e vivia o resto da vida no mato, plantando, casando-se e fazendo mais filhos homens para ajudar na lida da roça.
Mas tinha uma coisa que eu detestava, aliás, ODIAVA.
Era quando, DE REPENTE, NÃO MAIS QUE DE REPENTE, FAZENDO CHUVA OU SOL, LÁ PELA CURVA DO CAMINHO - QUE ELE TAMBÉM FAZIA A PÉ, NEM SEI PORQUÊ - APARECIA POR ALI, TRANÇANDO AS PERNAS, COMO ERA SEU COSTUME, O INSPETOR, SE NÃO ME ENGANO, "SEU" ASTOR...
Tenho saudade dos alunos. 
Nunca mais os vi.
Lembrança deles? 
Num belo dia, me ouviram falar que eu gostava de coruja. 
Caçaram uma e me trouxeram.
Tive que ficar com ela, é claro!

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