sábado, 4 de junho de 2016

OS ÚLTIMOS DIAS DE VIDA DO PROFESSOR SONODA

Polícia encontra faca que pode ter sido usada para matar professor da UFTM; Milton Taidi Sonoda, de 39 anos, foi dopado e morto em São Carlos (SP).
Viúva afirmou que ajudou filha, autora confessa do crime, a desovar corpo.
Fabio Rodrigues/ G1 São Carlos e Araraquara

Policiais da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) apreenderam nesta quarta-feira (1º) uma faca que pode ter sido usada para matar o professor de física encontrado carbonizado dentro de um veículo em São Carlos (SP). Também foram apreendidos remédios que teriam sido usados para dopar a vítima, segundo o delegado Gilberto de Aquino. Mãe e filha estão presas suspeitas pelo homicídio motivado por dinheiro. Durante as investigações, a polícia interceptou mensagens trocadas entre elas, que planejavam o crime há pelo menos 3 meses.
O professor, que era graduado e mestre pela Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos e lecionava na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), em Uberaba (MG), foi morto no último dia 18 às 10h30. O depoimento de mãe e filha na terça-feira (31) demorou seis horas. A viúva, uma advogada de 36 anos, negou o crime e disse que ajudou apenas a ocultar o cadáver. A adolescente, de 17 anos, assumiu que matou o padrasto com três facadas em casa, enquanto o irmão de 5 anos assistia à TV no quarto. Nesta quarta-feira, os investigadores foram à casa onde Milton Taidi Sonoda, de 39 anos, morava com a família.
No local, a polícia também apreendeu um saco que teria sido usado para embalar o corpo da vítima. Duas semanas após o crime, que aconteceu no último dia 18, na casa ainda havia manchas de sangue pelo chão e um colchão. A faca foi encontrada na cozinha e, segundo a polícia, ela pode ter sido lavada pelas suspeitas.
 
 
Mãe e filha de 17 anos prestaram depoimento na DIG e foram detidas (Foto: Fabio Rodrigues/G1)

Sem arrependimento
Em depoimento, a enteada contou que matou o padrasto com três golpes de faca na região abdômen. Sonoda, que estava na sala, foi dopado e, após ser golpeado, caiu no chão e agonizou por dez minutos até morrer. Segundo o delegado, nem a mãe, nem a filha não demonstraram arrependimento em nenhum momento.
Após o homicídio, o delegado afirmou que as mulheres doparam o filho do casal para que ele dormisse enquanto elas escondiam o corpo. Mãe e filha saíram para comprar uma pá e sacos plásticos. Ao voltarem, embalaram o corpo de Sonoda e prenderam com fita crepe. Manobraram o carro de ré na garagem e colocaram o professor no veículo. Depois, seguiram até o km 148 da Rodovia Luís Augusto de Oliveira (SP-215), local onde o automóvel com o corpo de Sonoda dentro foi encontrado pelo Corpo de Bombeiros à noite, em chamas.
De acordo com o delegado, a adolescente relatou que a pá comprada serviu para ela abrir uma cova no local em que o veículo estava. Quando foram retirar o corpo do carro, entretanto, saiu muito sangue e o veículo ficou manchado. "Elas viram que ficariam vestígios, pois havia impressões digitais de ambas e, como a viúva é advogada e tem conhecimento jurídico, decidiram atear fogo no veiculo", disse o delegado.
 
 
Investigação foi comandada pelo delegado da DIG Gilberto de Aquino (Foto: Fabio Rodrigues/G1)

Reforma da casa e descontentamento
A investigação da DIG concluiu que mãe e filha planejavam a morte do professor há três meses. Sonoda tinha uma certa quantia em dinheiro que investia na reforma de uma casa em Uberaba, onde a família passaria a morar. "A mulher não queria se mudar, e a vítima estava gastando todo dinheiro, a reserva que eles tinham em caixa. Isso estava trazendo descontentamento", afirmou o delegado.
Para não ficar sem dinheiro, a mulher planejou a morte do marido. No dia do crime, a viúva contou à polícia que a vítima saiu atrás de um caminhoneiro para fazer a mudança. Afirmou ainda que, depois, o marido passaria na USP para se despedir de amigos e, por fim, iria comprar maconha para consumo próprio. "Ela deu três afirmativas que nós fomos checar e nenhuma delas estava batendo", disse o delegado.Viúva postou homenagem ao marido morto um dia
antes de ser presa (Foto: Reprodução/Facebook)

Homenagem na rede social
Um dia antes de ser presa a viúva postou uma homenagem em vídeo na rede social na página do marido. No arquivo de 6min58 há imagens do professor com o filho, e a música ‘Naquela Mesa’, interpretada nesta versão por Nelson Gonçalves. O arquivo foi removido da página nesta quarta-feira. No dia 8 de maio, a mulher também postou uma figura com as frases “Luto...saudades eterna”.
O irmão do professor assassinado, que mora no Rio de Janeiro, disse que soube da confissão do crime pelos noticiários. Em entrevista à EPTV, afiliada da Rede Globo, Moriharu Sonada Neto contou que nunca passou pela cabeça que a esposa e a enteada teriam assassinado seu irmão.
Segundo ele, o casal se conheceu em uma sala de bate-papo na internet há cerca de oito anos. Depois, começaram a namorar e casaram. "Não tínhamos um laço estreito, mas todas as vezes que precisei trocar mensagens com ela ou ir até lá fui bem tratado. Meu irmão nunca se queixou dela, nem falava sobre brigas. A enteada, eu tratava como sobrinha, foi um choque", disse.
 
Viúva negou que matou o marido, mas afirmou que ajudou a ocultar cadáver (Foto: Fabio Rodrigues/G1)

Execução
Quando Sonoda chegou de viagem na madrugada de sábado (14), estranhou os móveis da casa não estarem embalados e prontos para a mudança. Segundo o delegado, a mulher alegou que o caminhão estava atrasando tudo. Com isso, ela conseguiu enganar o marido até quarta-feira, quando ele foi executado.
Desde o crime, a mulher era a principal suspeita, afirmou Aquino. Segundo ele, tanto ela quanto a filha eram evasivas quando questionadas. A própria família da vítima, no dia em que foi fazer o reconhecimento do corpo, desconfiava da versão apresentava pela viúva.
A menor em nenhum momento demonstrou arrependimento e contou todos os detalhes"
 
Entenda o caso
No dia do crime, o Corpo de Bombeiros de São Carlos foi acionado para atender uma ocorrência de incêndio em veículo no km 148 da Rodovia Luís Augusto de Oliveira (SP-215), próximo da fábrica de motores da Volkswagen. Quando a equipe chegou, notou que havia um corpo carbonizado dentro do carro.
Por volta das 20h25, a Polícia Militar foi chamada e encontrou uma pá no porta-malas do veículo. Também descobriu que a 10 metros do local havia um buraco, aparentemente uma cova, no qual o corpo poderia ser enterrado.

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