sexta-feira, 2 de agosto de 2013

DO THE NEW YORK TIMES: A Mensagem da Juventude do Brasil


Por Luiz Inácio Lula da Silva
Publicado em: 16 de julho de 2013.

São Paulo - Os jovens, os dedos rápidos em seus celulares, tomaram as ruas ao redor do mundo.
Parece mais fácil de explicar esses protestos quando ocorrem em países não democráticos, como no Egito e na Tunísia em 2011, ou em países onde a crise econômica aumentou o número de jovens desempregados para máximos assustadoras, como na Espanha e na Grécia, que quando eles surgem em países com governos democráticos populares - como o Brasil, onde atualmente gozam as menores taxas de desemprego da nossa história e uma expansão sem precedentes dos direitos econômicos e sociais.
Muitos analistas atribuem recentes protestos a uma rejeição da política. 
Eu acho que é precisamente o oposto: 
- Eles refletem um esforço para aumentar o alcance da democracia, para incentivar as pessoas a participar mais plenamente.
Eu só posso falar com autoridade sobre o meu país, o Brasil, onde eu acho que as manifestações são em grande parte o resultado de sucessos sociais, econômicas e políticas. 
Na última década, o Brasil dobrou o número de estudantes universitários, muitos de famílias pobres. 
Nós reduzimos drasticamente a pobreza e a desigualdade. 
Estas são conquistas importantes, no entanto, é completamente natural que os jovens, especialmente aqueles que estão obtendo coisas que seus pais nunca tiveram, devem desejar mais.
Estes jovens não viveram a repressão da ditadura militar nas décadas de 1960 e 1970. 
Eles não viveram através da inflação dos anos 1980, quando a primeira coisa que fizemos quando recebemos nossos salários foi correr para o supermercado e comprar tudo o possível antes de os preços subirem novamente no dia seguinte. 
Lembram-se muito pouco sobre a década de 1990, quando a estagnação e o desemprego deprimiam nosso país.
Eles querem mais.
É compreensível que assim seja. 
Eles querem que a qualidade dos serviços públicos melhorem. Milhões de brasileiros, incluindo os da classe média emergente, compraram seus primeiros carros e começaram a viajar de avião.
Agora, o transporte público deve ser eficiente, tornando a vida nas grandes cidades menos difícil.
As preocupações dos jovens não são apenas material. 
Eles querem maior acesso ao lazer e atividades culturais. 
Mas acima de tudo, eles exigem instituições políticas mais limpas e mais transparentes, sem as distorções do sistema político e eleitoral anacrônico do Brasil, que recentemente se mostraram incapazes de gerir a reforma. 
A legitimidade dessas demandas não pode ser negada, mesmo que seja impossível encontrá-las rapidamente. 
É preciso primeiro encontrar fundos, estabelecer metas e definir prazos.
A democracia não é um compromisso de silêncio. 
Uma sociedade democrática deve estar sempre em fluxo, debater e definir as suas prioridades e desafios, em constante desejo de novas conquistas. 
Apenas em uma democracia pode ser um índio eleito presidente da Bolívia, e um Africano-Americano ser eleito presidente dos Estados Unidos. 
Apenas em uma democracia podia primeiro um metalúrgico e depois uma mulher serem eleitos presidentes do Brasil.
A história mostra que, quando os partidos políticos são silenciados, e as soluções são procuradas pela força, os resultados são desastrosos: as guerras, as ditaduras e a perseguição das minorias. 
Sem partidos políticos não pode haver uma verdadeira democracia. 
Mas as pessoas simplesmente não querem votar a cada quatro anos.
Elas querem interação diária com os governos locais e nacionais, e participar na definição de políticas públicas, oferecendo opiniões sobre as decisões que os afetam cada dia.
Em suma, elas querem ser ouvidas. 
Isso cria um enorme desafio para os líderes políticos.
Isso exige as melhores formas de engajamento, através da mídia social, no trabalho e nos campi, reforçando a interação com grupos de trabalhadores e líderes da comunidade, mas também com os chamados setores desorganizados, cujos desejos e necessidades não devem ser menos respeitados por falta de organização.
Tem-se dito, e com razão, que enquanto a sociedade entrou na política, a era digital permaneceu analógica. 
Se as instituições democráticas utilizam as novas tecnologias de comunicação como instrumentos de diálogo, e não por mera propaganda, elas iriam respirar ar fresco em suas operações.
E isso seria mais eficaz trazê-las em sintonia com todas as partes da sociedade.
Mesmo o Partido dos Trabalhadores, que ajudou a fundar e que tem contribuído muito para modernizar e democratizar a política no Brasil, precisa de profunda renovação. 
É preciso recuperar suas ligações diárias com os movimentos sociais e oferecer novas soluções para novos problemas, e fazer as duas coisas sem tratar os jovens com paternalismo.
A boa notícia é que os jovens não são conformistas, apáticos ou indiferentes à vida pública. 
Mesmo aqueles que pensam que odeiam a política estão começando a participar.
Quando eu tinha sua idade, eu nunca imaginei que me tornaria um militante político.
No entanto, acabamos de criar um partido político quando descobrimos que o Congresso Nacional praticamente não tinha representantes da classe trabalhadora.
Através da política que conseguimos restaurar a democracia, consolidar a estabilidade econômica e criar milhões de empregos.
É evidente que ainda há muito a fazer.
É uma boa notícia que os nossos jovens querem lutar para garantir que a mudança social continua em um ritmo mais intenso.
A outra boa notícia é que a presidente Dilma Rousseff propôs um plebiscito para realizar as reformas políticas que são tão necessárias.
Ela também propôs um compromisso nacional para a educação, saúde e transporte público, em que o governo federal iria fornecer apoio técnico e financeiro substancial para estados e municípios.
Ao conversar com jovens líderes no Brasil e em outros lugares, eu gostaria de dizer-lhes o seguinte:
- Mesmo quando você está desanimado com tudo e com todos, não desista da política. Participe! Se você não encontrar em outros o político que você procura, você pode achá-lo em si mesmo.
Luiz Inácio Lula da Silva é um ex-presidente do Brasil, que agora trabalha em iniciativas globais como o Instituto Lula.

QUE TAMBÉM VIROU FILÓSOFO.
COITADO!

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