domingo, 29 de janeiro de 2017

CONHECENDO VICENTE CELESTINO


Vicente Celestino (Antônio Vicente Filipe Celestino), cantor, compositor a ator, nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 12/9/1894 e faleceu em São Paulo, em 23/8/1968. 
Filho de um casal de imigrantes calabreses chegados ao Brasil dois anos antes de seu nascimento, teve dez irmãos, quatro também artistas: João, galã cômico; Pedro Celestino, tenor; Radamés, barítono; e Antônio, baixo. 
Começou a cantar aos oito anos, num grupo chamado Pastorinhas da Ladeira do Viana, e, ainda aluno de escola primaria publica, iniciou-se no ofício de sapateiro com o pai, entrando para o Liceu de Artes e Ofícios, para aprender desenho industrial, logo após terminar o primário.
Em 1903 participou do coro infantil da ópera Carmen (Georges Bizet, 1838—1875), no Teatro Lírico, e, notado pelo tenor italiano Enrico Caruso, recebeu convite para ir estudar canto na Itália, mas seu pai recusou-lhe autorização. 
Trabalhou numa fábrica de guarda chuvas, em 1905, foi servente de pedreiro no ano seguinte e, em 1910, voltou à sapataria do pai.
Cantou solo em público, pela primeira vez, na peça "Vida de Artista", encenada em 1912 pelo Grupo dos Cartolas, formado por amigos do bairro da Saúde. Depois, começou a cantar em festas, serenatas e casas de chope, abandonando o emprego em 1913 para dedicar-se somente à música. 
Numa dessas casas de chope, foi ouvido por Alvarenga Fonseca, que o levou para a Companhia Nacional de Revistas, do Teatro São José, da qual era diretor.
No dia 10 de julho de 1914, estreou na revista Chuá-Chuá, de Eustórgio Wanderley e J. Ribas, participando do coro e solando a valsa Flor do mal (Santos Coelho e Domingos Correia), com calorosos aplausos. 
Dois anos mais tarde, integrando a Companhia Leopoldo Fróis, foi cantar em São Paulo, sendo promovido a ator-cantor, apresentando-se depois em Porto Alegre e Pelotas RS, Pernambuco e Bahia.
Em 1915 ou 1916, gravou seu primeiro disco — "Flor do Mal e "Os que Sofrem" (Alfredo Gama e Armando Oliveira) — na Casa Edison (Odeon), do Rio de Janeiro. 
Deixou o Teatro São José em 1917, para se dedicar ao estudo do canto, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. 
Em 1919, voltou aos palcos, como ator de várias peças, começando, em março, no papel principal em "Amor de Bandido" (Oduvaldo Viana e Adalberto de Carvalho), encenada pela Companhia de Pascoal Segreto, no Teatro São Pedro (hoje João Caetano). 
Seu maior sucesso nessa temporada foi a opereta Juriti, de Viriato Correia, com música de Chiquinha Gonzaga, apresentada no mesmo teatro.
Com a atriz e cantora Laís Areda, organizou sua própria companhia de operetas, em 1920, estreando com "Loucuras de Amor" (Adalberto de Carvalho), no Teatro Americano. No ano seguinte trabalhou nas óperas "Tosca", de Giacomo Puccini (1858 1924) e "Aida", de Giuseppe Verdi (1813—1901), no Teatro Lírico, e em "Carmen", no Teatro São Pedro.
Fundou nova companhia com a cantora Carmen Dora, em 1923, para excursionar pelo Brasil; nos anos seguintes continuou a percorrer o país de ponta a ponta. 
Gravou também vários discos, que lhe deram grande popularidade, entre eles Urubu subiu, em duo com Bahiano, para o Carnaval de 1917; Hino Nacional Brasileiro (Francisco Manuel da Silva e Osório Duque Estrada), em 1918; e "O cigano" (Marcelo Tupinambá e João do Sul), em 1924.
Na Odeon, já no processo elétrico, de abril de 1928 a outubro de 1930 lançou 19 discos com 35 músicas, alcançando sucesso com "Santa" (Freire Júnior), em 1928, e o tango-canção "Nênias" (Cândido das Neves, apelidado de Índio), 1929, entre outras. 
Em 1932 passou para a Columbia, gravando no primeiro disco o tango-canção Noite cheia de estrelas (Cândido das Neves), que deu novo impulso a sua carreira discográfica. 
No ano seguinte, casou se com a cantora e atriz Gilda de Abreu, com quem já trabalhava no Teatro Recreio do Rio de Janeiro. O casamento aconteceu cinco meses após a estreia da opereta "A canção brasileira", de Luís Iglésias, Miguel Santos e Henrique Vogeler.
Em 1935 começou a gravar na RCA Victor, obtendo dois êxitos já no primeiro disco: os tangos-canções Ouvindo-te (sua autoria), em duo com Gilda, e Rasguei o teu retrato (Índio). A partir desse momento, começou a se projetar também como compositor de grandes sucessos, como, por exemplo, O ébrio, 1936, Coração materno, 1937, Patativa, 1937, Sangue e areia (com Mário Rossi), 1941, Porta aberta, 1946.
Em 1937 interpretou, com Gilda, a ópera Lucia di Lammermoor, de Gaetano Donizetti (1797—1848), no Teatro São Pedro. Transformou a canção O ébrio em peça de teatro, com estreia no Teatro Carlos Gomes, em 1941, e sempre encenada em suas excursões; fez o mesmo com Coração Materno, opereta estreada em 1946 no Teatro João Caetano. Ambas foram filmadas por Gilda de Abreu, respectivamente em 1946 e 1951, com ele nos papéis principais, alcançando grande sucesso de público.


Vicente, Chiquinha, Gilda e Viriato.
Com sua poderosa voz de tenor, cantou também músicas modernas, como o samba Se todos fossem iguais a você (Tom Jobim e Vinícius de Moraes), em 1959, mantendo-se sempre fiel a seu estilo. 
Em 1965 recebeu o titulo de Cidadão Paulistano da Câmara dos Vereadores. 
Passou também a ser conhecido por um público mais jovem em 1968, quando Caetano Veloso gravou Coração Materno.
Preparando-se para gravar um programa de televisão em que seria homenageado pelos componentes do Movimento Tropicalista, sentiu-se mal no quarto do hotel Normandie, em São Paulo, morrendo minutos depois, do coração. 
No total, em todas as gravadoras, desde a fase mecânica, lançou cerca de 137 discos em 78 rpm com 265 musicas, mais dez compactos e 31 LPs, vários destes com relançamentos.
Vicente Celestino cantava com a alma e o coração, sem economizar o que Deus lhe deu: sua voz preciosa. 
Um grande empresário da época, Walter Mochi, ao ouvi-lo, quis levá-lo para a Europa, a fim de projetar Vicente como um dos maiores tenores dramáticos do mundo. Mas Vicente não concordou e disse que jamais deixaria o Brasil, sua Pátria, declinando, assim, do honroso convite. Queria cantar para o seu povo. Poucos teriam resistido à tentação.
Vicente Celestino era um homem feliz. 
Foi cognominado "A voz orgulho do Brasil': e bem mereceu o título. 
Compôs várias canções de grande sucesso.
Recebeu muitas homenagens em vida e durante 33 anos foi contratado pela RCA-Victor, onde gravou centenas de discos.
Antonio Vicente Felippe Celestino (Vicente Celestino) apresentou-se pela última vez para uma pequena platéia de 200 pessoas, durante um ensaio em São Paulo, na triste tarde de 23 de agosto de 1968, onde artistas, músicos, cantores ensaiavam para um "show" que seria gravado às 23 horas. 
Às 22:30 horas daquela noite calou-se para sempre "A voz orgulho do Brasil".



Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e PubliFolha - São Paulo, 1998/

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