domingo, 5 de fevereiro de 2017

NA COLA DA XÊNIA



Estou a beirar os 50 anos e é nítida e triste a diferença que sinto de quando eu tinha trinta e poucos, quarenta anos (melhor nem comparar com os 18 anos, sob risco de profunda depressão). 
O corpo reage pior e mais lentamente a tudo, uma gripe leva um mês para sarar, uma pancada no joelho ou uma pisada em falso, que forcem um pouco um tendão, um ligamento, são dores para o resto da vida, e as ressacas, então? 
Dão até vergonha!
Vou mais longe que a Xênia : e nem há, à guisa de compensação pelo corpo fraco, a tão alardeada aquisição de sabedoria, que viria com a experiência de vida e nos tornaria em anciãos sensatos e serenos, modelos de equilíbrio para os mais novos.
A sabedoria via velhice também é outra falácia : não ficamos mais sábios com a idade, só ficamos mais velhos. 
Não ficamos mais amáveis ou compreensíveis, só ficamos mais fracos, menos capazes de levar tudo a ferro e a fogo, sem forças para aguentar o tranco de um revés. 
É a debilidade que nos faz pensar mais antes de encararmos uma briga, é a desvantagem física que nos torna mais cautelosos e contemplativos. 
A velhice nos torna mais medrosos, não mais sábios.
Não sei se alguém realmente acredita nessa balela de "melhor idade", "feliz idade" e o escambau. 
O que é clara e nítida, para mim, é a existência de um grande segmento de mercado de olho na aposentadoria dos velhinhos. Um comércio de ilusões de eterna juventude. 
Vitaminas, poliminerais, suplementos alimentares, reposições hormonais, viagra, ginástica, bailes da velha guarda (os famosos "desmanches"), excursões para Caldas Novas. 
Daí essa puxação de saco para cima dos velhinhos, esse samba-exaltação de suas artroses, diabetes, hipertensões, cataratas, osteosporoses e safenas. 
A ideia é manter os velhinhos ativos, ao menos economicamente, engambelá-los para que consumam feito adolescentes, feito idiotas deslumbrados.
A Marreta do Azarão
escrito em 29 de abril de 2014

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