A sociedade que conhecemos atualmente é resultado de padrões, códigos e regras que formatam as condições e perspectivas de vida.
Somos indivíduos livres, adaptados às regras sociais previamente estabelecidas, como se fizéssemos parte de um gigantesco condomínio, mas não temos voz nem expressão nesta entidade, não passamos de dados e estatísticas.
Temos um sistema político falido, onde podemos escolher os síndicos, mas uma vez eleitos, se juntam a uma velha casta que tem apenas dois grandes dilemas: como cobrir os gastos de campanha e como se perpetuar no poder?
Outros integrantes deste sistema que deveriam zelar pela lisura das condutas dos agentes públicos, agem como um conselho fiscal, meramente figurativo.
Agentes econômicos mantêm relações promíscuas com entes públicos em todos os lugares e instâncias e o resultado é a corrupção generalizada e a degradação econômica.
Nós somos livres, mas nos tornamos escravos virtuais de um sistema que é controlado por uma minoria e ainda temos vícios adquiridos no tempo da colonização, com distribuição de benesses públicas, troca de favores e nomeação de pessoas, por indicação, para cargos vitalícios, algumas delas para desembargadores e ministros das mais altas cortes.
Para exercermos a plena liberdade é preciso entendermos que o governo estatiza a arrecadação através de tributos, a maior parte embutida nos preços de produtos e serviços que consumimos, e privatiza os serviços públicos que deveriam ser custeados com os recursos arrecadados, como saúde, segurança, educação e transportes.
Como nos libertarmos se não compreendemos o que nos domina e escraviza?
Se nos contentamos em poder comprar bens de consumo em suaves prestações, ainda que custem o dobro do valor ofertado no exterior?
Para sobrevivermos temos que equalizar orçamentos, reduzir nossas necessidades e consumirmos menos, o que deveria afetar a oferta e reduzir os preços, mas nem o mercado é livre, pois grande parte dos custos são formados por preços controlados, como energia elétrica e combustíveis.
Como sermos livres se a maioria ainda acredita em agentes públicos que distribuem migalhas disfarçadas de programas de assistência social?
Como vermos vantagem em programas de crédito educativo que apenas financiam as instituições privadas, em vez de expandir as instituições públicas?
Como acreditarmos num Judiciário que está mais preocupado em equiparar salários e benefícios dos magistrados, do que em distribuir justiça?
A verdade que liberta também incomoda, porque é mais fácil nos contentarmos com pão e circo, como escravos da diversão e entretenimento.
A maior escravidão é individual e está fundada no conformismo, mas a esperança de liberdade está na coesão social.
Qualquer movimento ou reação é repleto de riscos difíceis de prever, mas assistir passivamente é sucumbir ao fracasso e destruição.
No passado não muito remoto, os governos reprimiam a panfletagem nas ruas e confiscavam os mimeógrafos que produziam cópias rudimentares.
Hoje as redes sociais poderiam se tornar instrumentos úteis de organização social.
Para aqueles que ainda pensam que não pagam tributos, aproximadamente metade do que recebemos como ganhos ou salários, é gasto com impostos embutidos nos preços dos produtos e serviços que consumimos.
O imposto sobre consumo representa 80% da arrecadação brasileira, é o mais pesado e recai sobre a camada mais pobre da população. Para piorar, mais da metade de tudo o que é arrecadado, é gasto apenas com a manutenção da estrutura estatal.
Temos liberdade para protestar, mas fingimos que não há nada contra o que se rebelar e que não há nada que podemos fazer para mudar a situação, mas é preciso expressarmos a nossa insatisfação, buscando os meios que possam conectar os movimentos para produzir os resultados desejados.
A liberdade que pensamos ter, chegará ao fim com o caos econômico e social.
Não é preciso sermos de esquerda ou de direita, basta sermos brasileiros, porque num sistema falido não sobrará partidos políticos.
O povo tem o poder, mas não tem instrumentos para utilizá-lo, logo o poder não emana do povo.
Chega de elegermos pessoas que colonizam o interesse público e agem como se o estado fosse um cartório para atender interesses privados e toda sorte de negócios escusos, sem qualquer efetivo controle social.
Só o pensamento de revolta não produz resultados, mas não importa o tamanho da maldade ou destruição, sempre será possível desfazê-la com coragem, vontade e determinação, movidos pela insatisfação, no intuito de construirmos uma sociedade mais humana, mais digna e mais justa!
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*Luiz Carlos Guglielmetti é advogado especialista em direito tributário.
Migalhas
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